
A Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou esta semana no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, uma nova e ambiciosa iniciativa para a indústria automóvel do continente. O objetivo é claro: criar um “carro do povo” europeu, 100% elétrico, acessível e produzido localmente para fazer frente à crescente concorrência, especialmente a chinesa.
Este novo programa, batizado de Small Affordable Cars Initiative (Iniciativa para Carros Pequenos e Acessíveis), surge como um pilar central de um plano mais vasto para apoiar a economia europeia e baixar o custo de vida dos cidadãos, que inclui também medidas para a energia, habitação e segurança alimentar.
A resposta europeia aos elétricos chineses
Num discurso direto aos eurodeputados, Von der Leyen defendeu que a mobilidade automóvel é um setor demasiado estratégico para ser deixado nas mãos de concorrentes externos. “Acredito que a Europa deve ter o seu próprio E-car”, afirmou, sublinhando que o objetivo é desenvolver um veículo que seja simultaneamente ecológico, eficiente e leve, mas também acessível a todos os europeus.
A mensagem para o mercado global foi inequívoca: “Não podemos deixar que a China e outros conquistem este mercado”. Esta iniciativa surge pouco depois de a Comissão Europeia ter flexibilizado os objetivos de emissões para 2025, e antecede uma reavaliação das metas estabelecidas para 2035, mostrando uma nova abordagem de Bruxelas ao setor.
Um pedido antigo da Renault e Stellantis
A criação de um programa focado em veículos elétricos compactos não é uma ideia nova e parece ir ao encontro das pretensões de gigantes da indústria como a Renault e a Stellantis. Há vários meses que os líderes de ambas as empresas, como Luca de Meo e John Elkann, defendem a criação de uma categoria específica para estes veículos, apelidada de “e-car” ou classe M0, inspirada no sucesso dos populares kei cars japoneses.
No fórum “Future of the Car” do Financial Times, ambos os executivos criticaram o excesso de regulamentação na Europa, que prevê mais de 100 novas regras até 2030, e apelaram a uma estratégia industrial mais clara e coesa.
Anúncio recebido com vaias no Parlamento
Apesar do apoio da indústria, a proposta de Von der Leyen não foi consensual em Estrasburgo. Segundo o Politico, o anúncio foi recebido com vaias por parte de alguns eurodeputados, nomeadamente do Partido Popular Europeu (PPE). Este grupo político tem sido um dos principais defensores de metas de emissões menos rigorosas e da manutenção do motor de combustão para além de 2035.
As críticas surgem numa altura em que alguns fabricantes alertam para uma procura de veículos elétricos abaixo do esperado, pedindo mais tempo para a transição. No entanto, a Presidente da Comissão Europeia foi firme na sua posição: “O futuro é elétrico. E a Europa fará parte dele. O futuro dos automóveis — e os automóveis do futuro — têm de ser feitos na Europa.”
Uma batalha industrial e política pela frente
Mais do que uma simples medida económica, esta iniciativa é um forte sinal político. A Europa quer recuperar o protagonismo num segmento de mercado onde a indústria chinesa já oferece vários modelos compactos e com preços muito competitivos.
A batalha promete ser intensa, com impacto direto não só nas fábricas e nas cadeias de fornecimento europeias, mas também na competitividade global de todo o setor. A urgência é real, especialmente quando se olha para dados recentes que indicam a perda de mais de 50 mil postos de trabalho na indústria automóvel alemã só entre junho de 2024 e junho de 2025. Os detalhes do novo programa europeu deverão ser conhecidos nas próximas semanas.