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Uma recente escalada de tensões geopolíticas entre os Estados Unidos e a China desencadeou um colapso recorde no mercado das criptomoedas, resultando em perdas que ascenderam a 19 mil milhões de dólares. O evento expôs as fragilidades de um ecossistema financeiro saturado de alavancagem, onde as apostas de alto risco levaram a uma cascata de liquidações em massa.

A faísca que incendiou o mercado

A instabilidade intensificou-se após o anúncio de novas tarifas sobre produtos chineses por parte do Presidente dos EUA, Donald Trump, que serviu de catalisador para a maior queda da história recente das criptomoedas. A reação do mercado foi imediata e violenta, com os preços dos principais ativos digitais a caírem a pique.

Num espaço de apenas trinta minutos após o anúncio, a Bitcoin desvalorizou cerca de 10%, chegando a negociar momentaneamente abaixo dos 105.000 dólares. A Ether sofreu uma queda superior a 12%, para os 3.500 dólares, enquanto outros ativos como Solana, Hyperliquid e Sui registaram perdas de 17%, 45% e 70%, respetivamente.

O perigo da "leverage" e o efeito dominó

Este colapso ocorre num contexto de crescimento explosivo da negociação com recurso a leverage (alavancagem). Este mecanismo financeiro permite que os investidores usem dinheiro emprestado para aumentar o valor das suas posições, controlando uma quantidade de criptomoedas muito superior ao seu saldo real.

O indicador de open interest (contratos em aberto), que serve como barómetro para a negociação com alavancagem, disparou ao longo deste ano. No início de 2025, o open interest na Ether rondava os 23 mil milhões de dólares; na véspera do colapso, esse valor aproximava-se dos 60 mil milhões.

À medida que os preços caíam, os investidores alavancados foram forçados a fechar as suas posições para cobrir as perdas, gerando um efeito dominó de liquidações. A velocidade da queda foi tal que muitas corretoras ativaram mecanismos de desalavancagem automática, fechando posições lucrativas para evitar a acumulação de dívidas incobráveis. Apenas numa hora, a Bitcoin assistiu a 3,7 mil milhões de dólares em liquidações de posições de compra.

"Mesmo para alguém que já antecipava a inevitabilidade de uma queda deste género há meses, foi chocante testemunhar a sua severidade e velocidade", comentou o influenciador Evanss6 na plataforma X.

Apesar da volatilidade extrema, alguns analistas mantêm uma perspetiva de longo prazo mais serena, sugerindo que a causa pode não ter sido apenas o pânico geopolítico. "O que testemunhámos ontem pareceu muito diferente da maioria dos eventos que já experienciei. A grande diferença desta vez é que não parece existir uma razão fundamental para uma queda tão extrema", escreveu Simon Dedic, fundador da Moonrock Capital, sugerindo a possibilidade de uma falha técnica numa grande corretora.