
O Gabinete do Procurador-Geral da Rússia emitiu uma classificação oficial que designa a GSC Game World, a produtora ucraniana responsável pela aclamada série de videojogos S.T.A.L.K.E.R., como uma organização “indesejável”. A decisão baseia-se no alegado apoio financeiro direto que o estúdio tem fornecido às Forças Armadas da Ucrânia no contexto do conflito atual.
Financiamento militar e narrativas “antirussas”
Num comunicado oficial, as autoridades russas alegam que a empresa sediada em Kiev transferiu, em 2022, cerca de 17 milhões de dólares (aproximadamente 14,6 milhões de euros) para um fundo de apoio aos soldados ucranianos. Segundo o Gabinete do Procurador-Geral, este montante teria sido utilizado para a aquisição de drones de combate, componentes de armamento e veículos.
Para além do financiamento, a justificação para a inclusão na lista negra estende-se ao conteúdo produzido pelo estúdio. As autoridades apontam que a GSC Game World retrata a Rússia como um estado agressor e utiliza materiais que visam “desacreditar” o país. O comunicado destaca especificamente o lançamento, em 2024, do jogo S.T.A.L.K.E.R. 2: Heart of Chornobyl, acusando o título de conter “conteúdo russofóbico agressivo” e de promover “narrativas ucranianas”.
Penas de prisão e incerteza para os jogadores
Esta designação acarreta sérias consequências legais ao abrigo da lei russa sobre organizações “indesejáveis”, introduzida em 2015. A legislação prevê penas de prisão que podem ir até quatro anos para indivíduos associados à organização, e até seis anos para fundadores ou figuras de topo.
No entanto, a aplicação prática desta lei no contexto de um estúdio de videojogos permanece numa zona cinzenta. O Gabinete do Procurador-Geral não especificou se os cidadãos russos comuns poderão enfrentar processos criminais apenas por comprar, instalar ou jogar títulos da GSC Game World através de plataformas de streaming ou lojas digitais.
Este episódio não é um caso isolado na relação tensa entre a Rússia e a indústria de jogos. A Lesta, criadora do jogo multijogador World of Tanks, já tinha visto as suas operações russas serem nacionalizadas em julho, também sob alegações de ligações a angariações de fundos para a Ucrânia.