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A relação dos cidadãos com a democracia e a tecnologia está em constante evolução, e Portugal parece estar na linha da frente no que toca à valorização das liberdades digitais. Segundo os dados mais recentes, o nosso país destaca-se no contexto europeu não só pelo apreço ao regime democrático, mas também por uma defesa acérrima da liberdade de expressão na internet.

Estes dados constam nas conclusões do novo estudo “Democracia na Era da IA”, uma análise aprofundada conduzida pela Kantar para o Vodafone Institute, que procurou entender como a transformação digital está a moldar a sociedade em 12 países europeus.

Uma defesa digital acima da média europeia

Numa altura em que o debate sobre a regulação online está ao rubro, os portugueses mostram-se claros nas suas prioridades. O estudo revela que 84% dos inquiridos em Portugal consideram "muito" ou "extremamente importante" viver numa democracia. Este valor é significativamente superior à média europeia, que se fica pelos 75%, demonstrando um compromisso cívico robusto.

Mais impressionante ainda é a postura perante o mundo digital. Portugal surge como o país que mais defende a liberdade de expressão na internet, com 64% dos cidadãos a apoiarem este direito incondicionalmente, superando largamente a média de 52% registada nos restantes países analisados. Para 73% dos portugueses, o diálogo nas plataformas digitais é visto como uma oportunidade para fortalecer a democracia, sublinhando a importância de manter espaços abertos ao debate político.

No entanto, este idealismo contrasta com a realidade prática: apenas 22% dos portugueses se mostram satisfeitos com o funcionamento atual da democracia, um valor modesto que espelha a média europeia e sugere que, embora o sistema seja valorizado, a sua execução deixa a desejar.

Otimismo com a IA e o refúgio nos media tradicionais

O estudo aborda também a inevitável presença da IA (Inteligência Artificial) nas nossas vidas. Curiosamente, Portugal mostra-se mais otimista do que os seus vizinhos. Enquanto 39% dos europeus veem esta tecnologia como uma ameaça à democracia, por cá, 38% dos inquiridos acreditam que os benefícios superam os riscos, face a uma média europeia de apenas 30%.

Ainda assim, a preocupação com a desinformação é real. Cerca de 28% dos portugueses afirmam encontrar notícias falsas com frequência. Como resposta a este fenómeno, assiste-se a um regresso à confiança nos meios tradicionais. Portugal, a par de Espanha, lidera no reconhecimento da importância do jornalismo editorial: 63% dos inquiridos admitem que a relevância dos media clássicos aumentou devido à ameaça da desinformação, utilizando a televisão e a rádio como portos seguros para verificar a veracidade dos conteúdos políticos.

Este cenário resulta num forte apoio à regulação. Cerca de 70% dos cidadãos nacionais concordam com medidas que obriguem à identificação de conteúdos gerados por inteligência artificial e apoiam uma atuação mais firme das autoridades no combate ao discurso de ódio e às fake news, alinhando-se com diretrizes como o AI Act e o Digital Services Act.

O inquérito, que traça este retrato da sociedade digital, foi realizado entre fevereiro e abril de 2025, abrangendo mais de 12 mil pessoas em países como a Alemanha, França, Reino Unido e, claro, Portugal, onde a Vodafone continua a monitorizar o impacto da tecnologia na vida das pessoas.