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Nos Estados Unidos, especificamente na Califórnia, está a crescer um movimento de resistência liderado por pais e educadores contra a utilização obrigatória de tablets e portáteis nas salas de aula. Uma coligação de encarregados de educação acusa o Distrito Escolar Unificado de Los Angeles (LAUSD) de promover uma dependência tecnológica exagerada, a qual, segundo os mesmos, está a prejudicar o desempenho académico e o bem-estar das crianças.

O grupo, denominado "Schools Beyond Screens" (Escolas Além dos Ecrãs), iniciou uma campanha ativa contra a obrigatoriedade do uso de dispositivos como os Chromebooks e os iPads da Apple. O argumento central é a ironia das políticas atuais: embora o uso de telemóveis seja proibido dentro das escolas — uma medida semelhante à que se discute e aplica em várias instituições em Portugal —, os alunos são instruídos a utilizar tablets para estudar e realizar tarefas, acabando por usar estes dispositivos escolares de forma muito semelhante aos smartphones que lhes foram retirados.

Notas mais baixas e dependência excessiva

Lila Byock, fundadora do movimento, partilhou a sua experiência pessoal como exemplo do problema generalizado. Segundo Byock, as notas do seu filho a matemática sofreram uma queda significativa no sexto ano, coincidindo com o momento em que o uso do iPad se tornou obrigatório. A mãe questiona a lógica de distribuir tablets enquanto se proíbem os telemóveis, notando que "as crianças usam os dispositivos escolares exatamente da mesma forma".

As preocupações dos pais não se limitam apenas às notas. Existem relatos alarmantes sobre o comportamento dos alunos. Muitos pais afirmam que os filhos estão a desenvolver problemas comportamentais devido ao tempo excessivo de exposição aos ecrãs, trocando frequentemente os trabalhos escolares por jogos ou vídeos no YouTube.

Além da distração, a segurança é outro ponto crítico. Há registos de alunos que conseguiram contornar os bloqueios para aceder a conteúdos inapropriados, incluindo pornografia e violência. Num caso extremo relatado por uma mãe, um aluno do primeiro ano chegou a urinar na roupa quatro vezes num só mês, tal era o nível de absorção pelo dispositivo que o impedia de se levantar para ir à casa de banho.

Professores juntam-se à luta e o problema da IA

A insatisfação não é exclusiva dos encarregados de educação. O sindicato United Teachers Los Angeles, que representa mais de 35 mil profissionais, também está a negociar com o distrito escolar para reduzir a presença tecnológica nas aulas.

Embora reconheçam que as ferramentas digitais podem ser úteis quando usadas com moderação, muitos professores alertam que a exigência de um uso constante está a trazer mais prejuízos do que benefícios. Uma das grandes preocupações atuais dos docentes prende-se com a facilidade com que os alunos recorrem a ferramentas de IA generativa, como o ChatGPT, para completar tarefas escolares, prejudicando o processo de aprendizagem real.

Este caso em Los Angeles marca a primeira vez que um grande distrito escolar enfrenta uma resistência organizada contra a expansão dos ecrãs no ensino, num debate que coloca frente a frente a necessidade de literacia digital e os perigos da dependência tecnológica, conforme detalhado numa reportagem da NBC News.