
Tim Berners-Lee, o cientista da computação britânico a quem muitos chamam de “pai da web”, lançou duras críticas ao estado atual da sua criação, defendendo que os algoritmos viciantes, utilizados pela maioria das redes sociais, deveriam ser proibidos por lei.
Há 36 anos, Berners-Lee desenvolveu tecnologias fundamentais que moldaram a internet como a conhecemos, incluindo a World Wide Web, a linguagem HTML e o protocolo HTTP. Numa entrevista recente ao canal britânico ITV, partilhou a sua visão sobre o panorama digital de hoje, com um foco especial nas plataformas sociais.
O ciclo vicioso das redes sociais
Para Berners-Lee, o problema central reside no modelo de negócio das redes sociais. “Os sistemas são treinados para manter as pessoas na plataforma, então são recompensados quando alguém fica na plataforma por causa, por exemplo, de discursos de ódio”, afirmou. Na sua perspetiva, este mecanismo tem consequências sociais graves.
O cientista acredita que há provas concretas de que a polarização na sociedade aumentou significativamente devido a estes algoritmos, que são desenhados para maximizar o tempo de utilização, muitas vezes à custa do bem-estar dos utilizadores e da coesão social.
Uma solução radical: proibir a dependência
A solução proposta por Berners-Lee é clara e direta. “Uma coisa que podemos fazer é tornar isso ilegal. Podemos dizer que se pode criar plataformas de redes sociais; a única coisa que não se pode é torná-las viciantes”, sugeriu. Ele defende que as crianças podem e devem ter acesso a smartphones e à internet para ferramentas úteis, como a Wikipédia ou para comunicar com os pais, mas não para serem expostas a estes sistemas viciantes.
Esta não é a primeira vez que o criador da web expressa as suas preocupações. Já em 2017, criticava a falta de controlo sobre os dados pessoais, a disseminação de desinformação e o uso de publicidade política enganosa, apelando a uma maior transparência nos algoritmos.
Sem arrependimentos, mas com vontade de corrigir
Apesar das críticas, Tim Berners-Lee garante não estar arrependido da sua criação. “No geral, não. Há muitas coisas más. Mas, no geral, há muitas coisas boas”, refletiu. Para ele, a solução não é fechar a "caixa de Pandora", mas sim corrigir os problemas. “Basta consertar as peças que causam dependência. Isso é possível, as pessoas que criam sistemas viciantes sabem o que estão a fazer”, concluiu.