
O setor global de energia eólica está a atravessar um período de crescimento sem precedentes e prepara-se para atingir marcos históricos a um ritmo alucinante. De acordo com as mais recentes perspetivas do relatório "Global Wind Power Market Outlook" da Wood Mackenzie, o mundo está a caminho de adicionar o seu segundo terawatt (TW) de capacidade eólica até 2030. Para colocar este número em perspetiva, foram necessários 23 anos para instalar o primeiro terawatt, um marco alcançado em 2023. O segundo será instalado em apenas sete anos.
O ano de 2025 promete ser recordista, com as previsões a apontarem para a instalação de 170 gigawatts (GW) de nova capacidade a nível mundial. Deste total, mais de 70 GW deverão ser adicionados apenas no último trimestre do ano, o que significa que, em apenas três meses, poderá ser instalada mais capacidade do que em qualquer ano completo antes de 2020. Estas novas previsões representam um aumento de 13% em relação ao trimestre anterior, impulsionadas principalmente pelo crescimento explosivo da China.
China lidera a corrida com um crescimento sem paralelo
A China estabeleceu-se como o motor indiscutível desta expansão, com o seu domínio na indústria eólica a tornar-se cada vez mais evidente. O crescimento no mercado chinês é alimentado pela crescente procura de eletricidade, proveniente de setores como os servidores de data centers e a eletrificação geral da economia. Nos mercados de energia liberalizados, a energia eólica tem-se mostrado mais rentável do que a solar.
Sasha Bond-Smith, analista de investigação da Wood Mackenzie, salienta que "enquanto outros mercados estabelecidos lutam com a incerteza política e os ventos económicos contrários, estamos a testemunhar uma concentração de crescimento inigualável na China que está a remodelar o panorama da indústria".
No entanto, nem tudo são boas notícias para o gigante asiático. O setor eólico offshore enfrenta desafios significativos, com conflitos sobre o uso do mar a abrandar e, em alguns casos, a paralisar projetos que já estavam em construção.
EUA em contraciclo: políticas de Trump criam incerteza a longo prazo
Em forte contraste com o cenário chinês, o mercado norte-americano enfrenta uma forte incerteza política. A hostilidade da administração Trump em relação à indústria, particularmente no setor offshore, está a ter um impacto negativo. A aprovação da lei "big bill act (OBBBA)" em julho de 2025, que termina com os créditos fiscais após 2027, provocou uma corrida para finalizar projetos a curto prazo, mas arrasta as perspetivas a longo prazo.
Pela primeira vez, a previsão de adições de capacidade eólica nos EUA para os próximos 10 anos fica atrás da Índia e da Alemanha, uma mudança significativa no panorama energético global.
Um cenário de contrastes no resto do mundo
Noutras regiões, o cenário é misto. A energia eólica onshore mantém-se estável na Europa, na Ásia-Pacífico e nos mercados emergentes, com os resultados dos concursos e os projetos em curso a apoiar o progresso. Contudo, o setor offshore continua a lutar com dificuldades, enfrentando custos elevados e concursos falhados que estão a causar atrasos e contratempos, pressionando os legisladores a repensar as estruturas contratuais para manter os projetos viáveis.
"A transformação mais significativa da indústria eólica em décadas continua a desenrolar-se", afirma Kárys Prado, analista de investigação sénior da Wood Mackenzie. "Apesar de atingir uma escala histórica, o sucesso dependerá da eficácia com que a indústria navegar nesta nova geografia de crescimento e se adaptar à evolução dos cenários políticos."