
Se já sentiu um estranho mal-estar como passageiro a andar num carro elétrico, saiba que não está sozinho. A transição para a mobilidade elétrica trouxe inúmeros benefícios, mas também um efeito secundário inesperado para muitas pessoas: um aumento da probabilidade de enjoar. A explicação não está em si, mas sim na forma como o seu cérebro processa uma experiência de condução completamente nova.
O cérebro anda à procura de pistas que não existem
Ao longo de décadas, o nosso cérebro habituou-se a associar o movimento de um carro a um conjunto específico de estímulos sensoriais. O ruído do motor a aumentar, as vibrações a mudar com a velocidade e a resposta mecânica do veículo são pistas que nos ajudam a antecipar acelerações, travagens e curvas. Num carro elétrico, a maior parte destes sinais desaparece.
Esta ausência de "pistas" cria um conflito sensorial. O seu corpo sente o movimento, mas o cérebro não recebe os avisos auditivos e táteis a que estava habituado. Esta desorientação é um dos principais gatilhos para o enjoo de movimento.
Aceleração instantânea e travagens-fantasma
Existem dois fatores técnicos nos veículos elétricos que agravam este problema. O primeiro é a aceleração. Com o binário máximo disponível de imediato, os elétricos aceleram de forma linear, potente e, acima de tudo, silenciosa. Esta força apanha o corpo dos passageiros desprevenido, que não têm o aviso sonoro do motor para se prepararem.
O segundo culpado é a travagem regenerativa. Este sistema, que ajuda a carregar a bateria, começa a abrandar o carro assim que o condutor levanta o pé do acelerador, muitas vezes de forma subtil e sem que as luzes de travão se acendam de imediato. Para um passageiro, esta desaceleração contínua e pouco previsível é um dos elementos que mais contribui para o mal-estar.
Porque é que o condutor se safa (quase) sempre?
É raro que o condutor sinta estes enjoos, e a razão é simples: controlo e antecipação. O cérebro de quem conduz está a dar as ordens para acelerar e travar, pelo que antecipa cada movimento antes de ele acontecer.
Os passageiros, por outro lado, são sujeitos passivos destas forças. A situação é ainda pior para quem viaja nos bancos traseiros, onde o campo de visão da estrada é mais limitado. O conflito entre o que os olhos veem e o que o corpo sente é maximizado, resultando no enjoo.
A boa notícia: o nosso cérebro adapta-se
Felizmente, há uma luz ao fundo do túnel. Graças à plasticidade do cérebro, a exposição repetida a este novo tipo de movimento acaba por criar novos padrões neurológicos. Com o tempo, o cérebro aprende a reconhecer e a prever o comportamento de um carro elétrico.
Isto significa que, à medida que for andando mais vezes em veículos elétricos, a tendência para enjoar irá provavelmente diminuir. A eletrificação não é apenas uma mudança de motor, é uma nova experiência sensorial à qual o nosso corpo, com um pouco de paciência, se vai habituar.