
A indústria automóvel europeia tentou, mas a Comissão Europeia não cedeu. O prazo de 2035 para o fim da venda de novos carros a gasolina e diesel vai manter-se, apesar da forte pressão dos fabricantes para abrandar a transição. Numa cimeira decisiva realizada esta sexta-feira, Bruxelas deixou claro que, independentemente dos desafios, "o futuro dos automóveis é elétrico". Por trás da insistência dos construtores está o receio crescente da concorrência chinesa, que avança a um ritmo estonteante no mercado dos veículos elétricos.
Fabricantes europeus pedem mais tempo
Numa reunião descrita como o último "encontro de crise" entre a indústria e a Comissão Europeia, os fabricantes de automóveis apresentaram os seus argumentos para uma maior flexibilidade. Apontaram para o crescimento da quota de mercado de veículos plug-in (elétricos e híbridos plug-in) na Europa, que passou de 11% em 2020 para 24% em 2024, um valor que consideram insuficiente para atingir a meta de 100% em 2035.
Líderes como Ola Källenius, CEO da Mercedes e presidente da Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis (ACEA), defenderam que os "híbridos e os motores a combustão eficientes de alta tecnologia devem continuar a fazer parte do caminho", alertando para riscos para o emprego e para a aceitação do mercado.
Bruxelas não cede: o futuro é elétrico
Apesar da pressão, a resposta da Comissão Europeia foi firme. Embora tenha concordado em antecipar para este ano a revisão das metas, inicialmente prevista para 2026, a presidente Ursula von der Leyen reiterou que o objetivo final de 2035 é para manter. A mensagem é clara: a Europa não vai abrandar a sua aposta na mobilidade elétrica.
Uma fonte oficial da UE, citada pelo Euronews, resumiu a situação de forma contundente: "mesmo que a Comissão retirasse estas metas, a concorrência global iria impô-las à indústria". Uma referência direta à China, cujo avanço no setor dos elétricos está a mudar as regras do jogo a nível mundial.
A sombra da China e as "falsas soluções"
Enquanto os fabricantes europeus se queixam do ritmo, a China oferece um forte contra-argumento. No mesmo período em que a Europa passou de 11% para 24% de quota de mercado, a China saltou de 5% para uns impressionantes 47%. Esta aceleração, fruto de uma estratégia industrial agressiva e do incentivo a startups, permitiu ao país produzir veículos elétricos avançados a preços com os quais as marcas ocidentais têm dificuldade em competir.
Perante este cenário, a indústria europeia tem sugerido alternativas como os híbridos plug-in e os chamados "e-fuels" ou biocombustíveis. No entanto, estas soluções estão longe de ser ideais. Um estudo recente da Transport & Environment revelou que os híbridos plug-in emitem, em média, cinco vezes mais no mundo real do que nos testes de laboratório. Já os e-fuels, apesar de neutros em carbono, são extremamente ineficientes em comparação com o uso direto de eletricidade numa bateria.
Uma indústria dividida
Curiosamente, nem todos na indústria partilham da mesma opinião. Gernot Döllner, CEO da Audi, classificou o constante debate sobre a sobrevivência dos motores a combustão como "contraproducente", afirmando que "o carro elétrico é simplesmente a melhor tecnologia" e que esta discussão apenas serve para "inquietar os clientes".
Esta visão contrasta com a do líder do partido alemão CDU, Friedrich Merz, que defende que a indústria não se deve "limitar a uma única solução". No entanto, a realidade é que um recuo nas metas europeias poderia significar uma rendição à concorrência chinesa, resultando na perda de ainda mais empregos e relevância no mercado global. A única resposta, para muitos, não é abrandar, mas sim acelerar a inovação.