
A tensão na indústria dos semicondutores acaba de subir mais um degrau. A Administração Estatal para a Regulação do Mercado (SAMR), a entidade reguladora da China, acusou formalmente a NVIDIA de violar as leis antitrust do país. A acusação está ligada à aquisição da fabricante de chips Mellanox, um negócio de 6,9 mil milhões de dólares que a China tinha aprovado com condições específicas.
As conclusões da investigação, que teve início em dezembro, são ainda preliminares e, para já, não foram anunciadas quaisquer penalizações. No entanto, a SAMR alega que a gigante norte-americana violou tanto os regulamentos nacionais como os termos que foram impostos para que o negócio recebesse luz verde.
O negócio que está na origem da polémica
Para perceber a acusação, é preciso recuar a 2019, quando a NVIDIA anunciou a compra da Mellanox. A China deu luz verde ao negócio em abril de 2020, mas não sem impor condições rigorosas. Pequim exigiu que a NVIDIA continuasse a fornecer as suas GPUs e produtos de interconexão ao mercado chinês, seguindo "princípios justos, razoáveis e não discriminatórios", como avança o South China Morning Post. É precisamente o incumprimento destas condições que está agora a ser investigado.
Um movimento estratégico na guerra tecnológica
As conclusões preliminares da SAMR não são de agora e, segundo fontes do Financial Post, estavam prontas há várias semanas. A decisão de as divulgar apenas agora parece ser uma jogada calculada, coincidindo com as negociações comerciais entre os EUA e a China em Madrid. Esta manobra pode dar aos oficiais chineses uma importante moeda de troca nas discussões. Curiosamente, estas negociações já resultaram num acordo de princípio para o futuro do TikTok.
Comentários polémicos e chips no centro da discórdia
Este novo capítulo na saga entre a NVIDIA e a China surge num momento de particular sensibilidade. No mês passado, Pequim começou a desaconselhar as empresas locais de comprar os chips H20 da NVIDIA, aguardando uma revisão de segurança nacional. A tensão aumentou com as declarações de Howard Lutnick, Secretário do Comércio dos EUA.
Após os EUA terem permitido que a NVIDIA voltasse a vender chips à China em julho, depois de uma proibição de três meses, Lutnick afirmou que a tecnologia vendida não é a de ponta. "Não lhes vendemos o nosso melhor material, nem o segundo melhor, nem sequer o terceiro. O quarto, queremos que a China continue a usá-lo", disse Lutnick à CNBC. O objetivo, segundo ele, é manter os programadores chineses "viciados na tecnologia americana".
Por enquanto, a SAMR ainda não anunciou quaisquer penalizações, uma vez que a investigação continua em curso. No entanto, estas conclusões preliminares enviam um sinal claro a Washington e colocam a NVIDIA numa posição delicada no crucial mercado chinês.