
Numa altura em que o universo das criptomoedas é largamente dominado por empresas sediadas nos Estados Unidos, um grupo de nove grandes bancos europeus decidiu unir forças para virar o jogo. O objetivo é lançar uma nova stablecoin, uma moeda digital cujo valor está indexado a um ativo estável, neste caso, o euro.
O consórcio inclui gigantes financeiros como o ING, Banca Sella, KBC, Danske Bank, DekaBank, UniCredit, SEB, CaixaBank e Raiffeisen Bank International. A nova moeda digital tem lançamento previsto para o final de 2026 e promete agitar as águas dos pagamentos digitais no continente.
Regulação é a palavra de ordem: a bênção do MiCA
Um dos maiores trunfos desta iniciativa é que a stablecoin será totalmente compatível com o recém-implementado Regulamento dos Mercados de Criptoativos (MiCA) da União Europeia. Esta legislação, que entrou em vigor em meados de 2024, estabelece critérios rigorosos para a emissão de moedas digitais, exigindo que estas sejam integralmente apoiadas por reservas e proibindo as chamadas stablecoins algorítmicas, que se revelaram mais voláteis.
Esta conformidade regulatória garante um nível de segurança e confiança que a diferencia de muitas outras ofertas no mercado. A iniciativa será supervisionada pelo Banco Central Holandês, reforçando ainda mais a sua legitimidade.
Um desafio à hegemonia dos EUA no mundo cripto
Atualmente, o mercado global de stablecoins é dominado por tokens como o USDT da Tether e o USDC da Circle, ambas empresas americanas. Esta dependência tem sido vista com preocupação por parte dos legisladores europeus, que veem a inovação nos pagamentos a ser liderada por entidades estrangeiras.
Ao criar uma alternativa europeia, regulada e transparente, os bancos pretendem não só oferecer um produto mais seguro, mas também reforçar a autonomia financeira do continente.
O que ganham os utilizadores com esta nova moeda digital?
A nova stablecoin, baseada em tecnologia blockchain, promete revolucionar os pagamentos e liquidações. Para os utilizadores na União Europeia, os benefícios são claros: pagamentos de baixo custo, quase instantâneos e disponíveis 24 horas por dia, 7 dias por semana.
Além disso, a sua natureza programável abrirá portas a novas funcionalidades, como a automatização de pagamentos a fornecedores ou o processamento de salários, e simplificará as transações transfronteiriças. Os bancos poderão ainda oferecer serviços adicionais, como carteiras digitais seguras e serviços de custódia para os detentores da moeda.
Próximos passos e a visão da indústria
Os fundadores do consórcio planeiam nomear um CEO em breve e estão abertos a que mais instituições bancárias se juntem ao projeto. "Os pagamentos digitais são fundamentais para a nova infraestrutura de pagamentos e mercados financeiros denominados em euros. Oferecem uma eficiência e transparência significativas, graças às funcionalidades de programação da tecnologia blockchain e à liquidação instantânea entre moedas 24/7", afirmou Floris Lugt, líder de Ativos Digitais do ING, num comunicado oficial.
Atualmente, o grupo está a trabalhar para obter todas as aprovações regulamentares necessárias, num momento em que os reguladores europeus continuam a apertar a supervisão sobre os criptoativos e a explorar mais projetos-piloto do euro digital.