
Quando alguém se queixa de forma exagerada, é comum ouvir a piada sobre "tocar o violino mais pequeno do mundo". Pois bem, agora esse violino existe mesmo. Físicos da Universidade de Loughborough, no Reino Unido, criaram uma estrutura de platina com a forma de um violino que mede apenas 35 mícrones de comprimento por 13 de largura, uma dimensão tão reduzida que cabe perfeitamente na espessura de um cabelo humano.
Esta miniatura, no entanto, não foi criada para responder a lamentos dramáticos. Trata-se de uma impressionante demonstração da precisão de um novo sistema de nanolitografia que a universidade adquiriu, abrindo portas a avanços significativos em diversas áreas da tecnologia.
Mais do que uma piada: uma proeza da nanotecnologia
Apesar de não ser um instrumento funcional, este violino microscópico é um testemunho das capacidades do novo equipamento. "Apesar de a criação do violino mais pequeno do mundo poder parecer uma brincadeira, muito do que aprendemos no processo lançou as bases para a investigação que estamos agora a realizar", afirmou a professora Kelly Morrison, chefe do Departamento de Física.
A expressão "o violino mais pequeno do mundo" popularizou-se na cultura popular, nomeadamente através da série de televisão dos anos 70 M*A*S*H, como forma de ridicularizar queixas exageradas. A equipa de Loughborough pegou na expressão e deu-lhe uma forma literal para testar os limites da sua tecnologia. As imagens da estrutura, captadas ao lado de um cabelo humano para comparação, foram obtidas com um Microscópio Digital Keyence VHX-7000N.
Como se constrói um instrumento invisível a olho nu?
No centro desta proeza está o NanoFrazor, uma máquina de nano-esculpir da Heidelberg Instruments. Este sistema utiliza uma técnica chamada litografia por sonda térmica, na qual uma ponta aquecida, semelhante a uma agulha, desenha padrões à escala nanométrica sobre uma superfície.
Para criar o violino, os investigadores cobriram um chip com duas camadas de um material sensível. Em seguida, o NanoFrazor "queimou" o desenho do violino na superfície. Depois de dissolver a camada inferior, restou uma cavidade com a forma desejada. Foi então depositada uma fina camada de platina e o material restante foi removido com acetona, deixando apenas a estrutura final. O processo, embora demore cerca de três horas, exigiu meses de aperfeiçoamento para chegar à versão final.
O futuro da computação e do armazenamento de dados
A tecnologia que permitiu criar este violino minúsculo tem aplicações muito mais sérias e promissoras. Segundo informações da própria Universidade de Loughborough, o sistema está a ser usado em investigações que podem revolucionar a computação.
Um dos projetos, liderado pela Dra. Naëmi Leo, foca-se no uso de calor de formas controladas para melhorar o armazenamento e processamento de dados. A sua investigação combina materiais magnéticos e elétricos com nanopartículas que convertem luz em calor, criando gradientes de temperatura que poderão ser aproveitados para desenvolver dispositivos mais eficientes.
Outra linha de investigação, conduzida pelo Dr. Fasil Dejene, explora materiais quânticos como alternativa ao armazenamento de dados magnético tradicional. À medida que os dispositivos se tornam mais pequenos, manter a estabilidade dos bits magnéticos é um desafio. O trabalho de Dejene visa testar se os materiais quânticos permitem criar sistemas de memória mais pequenos, rápidos e fiáveis, com potenciais aplicações em computação inspirada no cérebro humano.