
Parece saído de um romance distópico, mas é a mais recente realidade na política energética dos Estados Unidos. O Departamento de Energia, sob a alçada de uma nomeada pela administração Trump, emitiu uma diretiva que proíbe o uso de uma vasta lista de palavras consideradas politicamente sensíveis, incluindo termos como "alterações climáticas", "energia verde" e "sustentabilidade".
A ordem foi comunicada através de um email enviado na passada sexta-feira a todos os funcionários do Gabinete de Eficiência Energética e Energias Renováveis (EERE), uma das agências mais importantes do setor. A medida reflete uma mudança drástica na abordagem do governo americano às questões ambientais e energéticas, alinhando a comunicação interna com a retórica política do Presidente.
Uma lista de palavras a evitar
A nota, enviada pela conselheira especial do EERE, Rachael Overbey, é bastante clara: "Por favor, garantam que todos os membros da vossa equipa estão cientes de que esta é a lista mais recente de palavras a evitar". Segundo avança o Politico, a lista de termos proibidos é extensa.
Entre as palavras banidas encontram-se "alterações climáticas", "verde", "descarbonização", "transição energética", "sustentabilidade", "sustentável", "subsídios", "benefícios fiscais", "créditos fiscais" e "pegada de carbono". Curiosamente, até a palavra "emissões" foi incluída, alegadamente por implicar um certo nível de negatividade, apesar da sua definição neutra no dicionário.
Esta decisão contrasta diretamente com a própria história do EERE, um gabinete criado no final da década de 1970 precisamente para promover as energias renováveis e a eficiência energética, na sequência da crise petrolífera de 1973. O objetivo era proteger a economia americana das oscilações de preços de combustíveis fósseis.
A nova direção da energia nos EUA
A atual administração Trump tem vindo a apostar fortemente na expansão do uso de combustíveis fósseis. Em várias comunicações oficiais e discursos, o Presidente tem-se referido à transição energética como a "fraude da energia verde". Num discurso recente nas Nações Unidas, Trump criticou os países que investem em tecnologias como a energia solar, eólica e baterias, afirmando que "o vosso país vai falhar".
A proibição destes termos parece ser um passo para solidificar esta visão dentro do próprio aparelho governamental, silenciando a linguagem associada às políticas de combate às alterações climáticas que dominaram as últimas décadas.
Um mundo em contraciclo
Enquanto a administração americana rema contra a maré, o resto do mundo acelera na direção oposta. Apesar da retórica vinda de Washington, o investimento global em energias renováveis atingiu um novo recorde na primeira metade de 2025.
Dados da BloombergNEF revelam que o investimento cresceu 10% face ao ano anterior, atingindo os 386 mil milhões de dólares (cerca de 388 mil milhões de euros). Este crescimento foi impulsionado principalmente pela energia eólica offshore e pela energia solar de pequena escala, demonstrando que a transição energética global não só continua, como está a ganhar velocidade.