
A Apple, que há um ano promovia com orgulho os seus primeiros produtos "neutros em carbono", está a fazer uma reviravolta silenciosa na sua estratégia de marketing. A empresa começou a remover esta designação dos seus produtos mais recentes, como o Apple Watch Series 11 e o Apple Watch Ultra 3, bem como do Mac mini com processador M4, após enfrentar pressões legais na Europa.
A mudança de rumo não é uma decisão voluntária, mas sim uma consequência direta de acusações de "greenwashing" — uma prática de marketing que promove uma imagem ecológica enganadora.
Pressão legal na Europa força mudança
O ponto de viragem aconteceu na Alemanha. Um grupo ambientalista alemão, o Deutsche Umwelthilfe, acusou a empresa de enganar os consumidores. Em agosto, um tribunal alemão deu razão ao grupo, proibindo a Apple de anunciar o Apple Watch como um produto neutro em carbono no país, conforme noticiado pela Reuters.
Inicialmente, a Apple removeu as menções do seu site alemão, mas a alteração foi agora alargada a nível global. Um porta-voz da empresa confirmou que a decisão visa cumprir uma futura legislação da União Europeia, que restringe o uso de alegações de neutralidade carbónica quando estas se baseiam em "créditos de carbono" ou projetos de compensação.
A promessa verde e a realidade cinzenta
Quando anunciou os seus primeiros produtos neutros em carbono em 2023, a Apple afirmou que a designação se baseava em critérios rigorosos: uso de 100% de eletricidade limpa na produção, 30% de materiais reciclados ou renováveis e 50% do transporte realizado sem recurso a aviões.
As emissões restantes, que representariam uma redução de 75%, seriam compensadas através de créditos de carbono de alta qualidade. O problema residia precisamente aqui. A compensação da Apple estava assente num projeto de plantação de eucaliptos no Paraguai. Os ecologistas argumentaram que estas monoculturas prejudicam a biodiversidade. Além disso, o tribunal alemão notou que a Apple não tinha garantido o arrendamento de 75% da área do projeto para além de 2029, pondo em causa a sustentabilidade a longo prazo da iniciativa.
Apesar de remover o rótulo, a empresa de Cupertino reitera que mantém o objetivo de se tornar totalmente neutra em carbono até 2030, indicando que a sua aposta na sustentabilidade continua, ainda que agora com uma comunicação mais cautelosa e alinhada com as novas e mais exigentes regras europeias.