
Num esforço para reforçar a sua soberania tecnológica, a Europa prepara-se para lançar um novo processador de arquitetura Arm. A SiPearl, empresa francesa apoiada por fundos da União Europeia, anunciou o Athena1, um chip de duplo uso concebido tanto para aplicações civis como militares, com o objetivo de diminuir a dependência de fabricantes estrangeiros em setores críticos.
Este novo processador representa uma evolução do anterior chip da empresa, o Rhrea1. A grande novidade reside nas suas funcionalidades de segurança reforçada, integridade de dados e encriptação forte, tornando-o apto para ser utilizado em cenários de defesa, no setor aeroespacial e em ambientes governamentais. No entanto, o seu lançamento, previsto apenas para 2027, coloca-o em contramão com o ritmo acelerado da indústria.
Um chip para governar a Europa
O conceito de "duplo uso" significa que o Athena1 foi projetado desde o início para servir dois mestres. Por um lado, poderá equipar servidores e estações de trabalho em ambientes civis. Por outro, cumpre os exigentes requisitos de segurança para ser o cérebro de operações militares e governamentais, onde a proteção de informação é vital.
A ideia é simples: garantir que a Europa não depende de tecnologia estrangeira para as suas aplicações mais críticas. Ao desenvolver os seus próprios processadores, o continente dá um passo importante para controlar a sua infraestrutura estratégica.
O que vale o Athena1 em termos técnicos?
Baseado na arquitetura Arm Neoverse V1, o Athena1 será disponibilizado em cinco configurações distintas, variando entre 16 e 80 núcleos, com opções intermédias de 32, 48 e 64 núcleos. Este design, que integra cerca de 61 mil milhões de transístores, não aposta, contudo, nas tecnologias mais recentes.
Ao contrário das tendências atuais, focadas em cargas de trabalho de Inteligência Artificial e supercomputação, o chip da SiPearl não irá integrar memória HBM. Em vez disso, recorrerá a memória RAM DDR5 instalada na motherboard, com uma interface que poderá ir até 256 bits para equilibrar capacidade e largura de banda. Em termos de conectividade, o processador oferecerá até 104 linhas PCI-Express 5.0.
O problema: um lançamento previsto apenas para 2027
É aqui que o projeto europeu encontra o seu maior desafio. A produção dos chips ficará a cargo da TSMC, mas utilizará o processo N6, uma versão melhorada da tecnologia de 7 nm. O lançamento está previsto apenas para a segunda metade de 2027, uma data em que a indústria já terá avançado consideravelmente.
Quando o Athena1 chegar ao mercado, a arquitetura Arm já deverá estar na sua terceira ou quarta geração (Neoverse V3 ou V4), e os processos de fabrico de 2 nm serão o padrão. Isto significa que, em termos de desempenho e eficiência, o processador europeu chegará já obsoleto, competindo com alternativas muito mais potentes e modernas.
Um primeiro passo estratégico, não um salto tecnológico
Apesar do atraso tecnológico, o lançamento do Athena1 pode ser visto de duas formas. Por um lado, é um passo necessário para justificar o investimento da União Europeia e para que a Europa comece a ganhar experiência no design e produção dos seus próprios chips. É um ponto de partida para projetos futuros mais ambiciosos e competitivos.
Por outro lado, e talvez o mais importante, a sua relevância é estratégica. Para aplicações críticas como defesa, setor aeroespacial ou criptografia, ter um processador "obsoleto" mas soberano é preferível a depender de tecnologia estrangeira. Este movimento, embora não brilhe pelo avanço tecnológico, marca um passo fundamental na busca da Europa pela sua independência no setor dos semicondutores.