A Microsoft Store foi originalmente criada como um meio para os utilizadores acederem rapidamente a aplicações focadas no sistema. Inicialmente criada para o Windows 8, a popularidade da plataforma nunca foi elevada, sobretudo porque esta apenas permitia apps que fossem desenvolvidas na plataforma proprietária da Microsoft.
As aplicações UWP foram uma tentativa da Microsoft em criar um ecossistema de apps, não apenas para o Windows, mas também para outros sistemas, como o antigo Windows Phone ou a Xbox. Infelizmente essa ideia falhou, o que levou a Microsoft Store a ser um pedaço de app no Windows que raramente os utilizadores acediam.
Com a chegada do Windows 11, finalmente a empresa veio também trazer mudanças na forma como a Microsoft Store é apresentada para o público. Invés de suportar apenas apps em formato UWP, agora os programadores podem também enviar aplicações em formato Win32 – o mais comum de se encontrar no Windows, que também é conhecido por muitos como sendo os tradicionais programas “.exe”.
Vários programadores já começaram a tirar proveito desta novidade, que sem dúvida aproxima a ideia da empresa em criar uma loja central para o Windows, algo similar ao que a Apple possui com a sua App Store no macOS. No entanto, a Microsoft ainda possui um longo caminho a percorrer para atingir esse objetivo.
> O problema? A falta de controlo de qualidade.
Atualmente qualquer programador pode enviar uma aplicação para a Microsoft Store, e existe praticamente nenhum controlo sobre o género de aplicações que podem ser enviadas. A Microsoft realiza apenas uma validação básica de identidade e de controlo por malware, mas mesmo este é bastante reduzido.
Este problema, no entanto, não é algo que surge apenas do Windows 11, e na verdade acompanha a Microsoft Store desde praticamente os seus primeiros anos no Windows.
Com uma rápida pesquisa conseguimos encontrar aplicações que tentam tirar proveito do desconhecimento dos utilizadores para os mais variados fins, por vezes enganando os mesmos e levando a que estes comprem apps que, doutra forma, seriam gratuitas ou fornecidas por outras fontes em formato legitimo.
Como exemplo, o GIMP é um excelente editor de imagem, que infelizmente não se encontra disponível na Microsoft Store, mas é inteiramente gratuito para quem o pretenda usar. No entanto, para quem tente pesquisar pelo nome na Microsoft Store, vai encontrar várias aplicações que “prometem” ser o GIMP ou fornecer funcionalidades do mesmo, ao ponto de até usarem os ícones oficiais do projeto.
Neste exemplo, o GIMP encontra-se disponível no site oficial da entidade para Windows, mas não possui uma variante para a Microsoft Store. Apesar disso, pesquisando o termo na loja, encontramos várias aplicações que prometem ser o programa, e ainda mais são pagas.
Um utilizador com menos conhecimentos que esteja a tentar usar o programa, pode ser levado a comprar uma destas aplicações de forma incorreta, enquanto que a versão oficial está disponível inteiramente gratuita.
A piorar a situação, algumas das apps nem sequer dizem respeito a um programa, mas sim a tutoriais e “guias”, embora tentem mascarar essa ideia na sua apresentação, fazendo-se passar como “originais”. Ou então adicionam apenas alguns plugins e outras funcionalidades que os utilizadores poderiam perfeitamente adicionar na versão gratuita e oficial.
Veja-se o seguinte exemplo, de uma aplicação que se apelida como "GIMP - Image Editor PRO", parecendo uma versão profissional do programa, e que está disponível pelo preço (promocional na altura da captura) de 0.99 euros.
Este programa nada mais é do que um instalador do GIMP para o sistema. O TugaTech testou realizar a compra do mesmo, e rapidamente se verifica que é uma versão em tudo idêntica à original no site do projeto - e que, novamente, está disponível para todos de forma gratuita!
Não verificamos qualquer diferença face à versão original e gratuita, pelo que pode-se dizer que quem quer que tenha comprado esta aplicação, está diretamente a ser enganado - e o TugaTech realizou o pedido de reembolso da mesma, de forma a não fornecer qualquer regalia para o criador.
No final, cada compra que seja feita, vai diretamente ser direcionada para o utilizador que enviou a aplicação para a loja... de uma aplicação gratuita.
> O problema tende a piorar!
Se este problema já vinha dos tempos do Windows 8, com a abertura da Microsoft Store para aplicações Win32, agora a tendência será para que venha a piorar.
A Microsoft tem vindo a focar-se em fazer o público saber que a Microsoft Store pretende ser o “centro de aplicações” para Windows, onde os utilizadores podem encontrar as suas apps favoritas num ponto central do sistema, sem terem de manualmente aceder aos sites dos projetos.
Com esta ideia, cada vez mais utilizadores vão começar a usar a Microsoft Store como um ponto central para instalarem as suas aplicações.
Navegadores, editores de imagem e vídeo, e até mesmo alguns programas da própria Microsoft, como o Office, passaram a estar disponíveis na Microsoft Store. Mas com isto, também as aplicações falsas ou enganadoras estão mais acessíveis – e cabe a cada um ter atenção a isso, algo que nem todos conseguem diferenciar.
Vejamos o exemplo de alguém que vai procurar na Store pelo Adobe Reader, um popular leitor de ficheiros PDF. Apesar de o Adobe Reader oficial encontrar-se na loja, também estão disponíveis vários programas que acabam por levar os utilizadores ao engano.
Nenhum dos programas na seguinte imagem é oficial da Adobe, mas no entanto, surgem diretamente na lista quando se pesquisa pelo termo.
O caso piora ainda mais se formos para algo mais básico, como a pesquisa por “Leitor de PDF”. Neste caso, e relembrando que o Adobe Acrobat se encontra oficialmente disponível na Microsoft Store, nenhuma das opções que é fornecida é de um leitor de ficheiros PDF credenciado, e muitos estão a usar a imagem da própria Adobe para enganar os utilizadores.
Estes exemplos são apenas um dos muitos que existem pela Microsoft Store, e um dos problemas que a Microsoft ainda se encontra longe de conseguir resolver.
Mesmo em casos onde aplicações falsas estão a enganar os utilizadores, a tarefa de reportar as mesmas muitas vezes leva a não ser realizada qualquer ação concreta, sendo que a aplicação pode permanecer meses na loja sem mudança, e durante todo esse período continua a enganar potenciais vitimas.
Enquanto tal não for resolvido, ou pelo menos controlado de alguma forma, a loja de aplicações da empresa vai continuar a ser um verdadeiro “tiro no escuro” na altura de instalar aplicações – e possivelmente, sem o futuro que a empresa imagina.
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