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Cluely

 

No mundo da inteligência artificial, surgem ferramentas para os mais variados fins, mas poucas assumem um propósito tão controverso como a Cluely. Esta nova plataforma de IA foi explicitamente desenhada para ajudar os seus utilizadores a contornar avaliações, seja em exames académicos ou entrevistas de emprego, funcionando como um assistente discreto durante videochamadas.

 

Com o slogan provocador "Cheat on everything" ("Faça batota em tudo"), a Cluely não esconde as suas intenções. Liderada por Chunging Lee, a empresa por detrás da ferramenta alega já ter garantido mais de 5 milhões de dólares em investimento, sinalizando que, apesar da polémica, existe interesse neste tipo de tecnologia. A sua notoriedade disparou recentemente, impulsionada por um vídeo de demonstração no X (antigo Twitter) que acumulou mais de 10 milhões de visualizações, mostrando a IA em ação num cenário que faz lembrar a série "Black Mirror".

 

Como funciona a IA da 'batota'?

 

website da Cluely

 

A promessa da Cluely reside na sua capacidade de operar de forma "indetetável". Segundo os criadores, a ferramenta consegue analisar o conteúdo de uma videochamada em tempo real – lendo o ecrã e processando o áudio da conversa – sem que as plataformas como o Google Meet ou o Zoom, ou os outros participantes na chamada, se apercebam da sua presença. O objetivo é fornecer respostas e sugestões instantâneas ao utilizador.

Os cenários de utilização são variados: desde auxiliar candidatos em entrevistas de emprego que envolvam testes práticos de programação, a fornecer respostas durante provas online ou até mesmo a apoiar equipas de vendas durante reuniões com clientes.

 

Privacidade e segurança em cheque

 

A capacidade de operar sem ser detetada levanta, no entanto, sérias preocupações no campo da segurança e privacidade. Para funcionar, a Cluely exige acesso completo ao ecrã e, potencialmente, ao áudio do computador do utilizador. Isto significa que uma quantidade massiva de informação sensível pode estar a ser processada e armazenada.

 

Fernando de Falchi, gerente de engenharia de segurança da Check Point Software, alerta para os riscos inerentes. Embora as ferramentas de videoconferência possam não detetar ativamente se outra aplicação está a "escutar", o problema reside na gestão dos dados recolhidos. "O utilizador concede permissão a um terceiro para aceder às suas informações, que podem incluir palavras-passe, folhas de cálculo confidenciais e documentos sensíveis", explica Falchi. "Tudo isto será enviado para a nuvem desta ferramenta, mas que garantias existem de que esses dados não serão acedidos por terceiros não autorizados? Existe um risco real de fugas de informação sigilosa".

 

manifesto no site

 

Adicionalmente, a gravação ou análise de conversas sem o consentimento explícito de todos os intervenientes pode colidir com regulamentos de proteção de dados, como o RGPD (Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados) na Europa, acarretando riscos legais significativos para os utilizadores e para a própria empresa.

 

Implicações na educação e no mérito

 

Para além das questões técnicas e legais, o impacto de uma ferramenta como a Cluely estende-se à esfera da educação e da ética profissional. A possibilidade de "copiar" facilmente pode minar o processo de aprendizagem e a valorização do conhecimento genuíno.

 

 

Emilly Fidelix, professora doutora e especialista em IA aplicada à educação, expressa preocupação quanto à dependência que estas plataformas podem gerar. "O estudante arrisca-se a tornar-se alguém superficial, sem profundidade de conhecimento em áreas importantes, sem repertório cultural ou autonomia intelectual", afirma. Fidelix defende que "as ferramentas devem auxiliar-nos em processos, poupar tempo, e não fazer completamente o nosso trabalho".

 

Embora outras IAs, como o ChatGPT da OpenAI ou o Gemini da Google, possuam capacidades que podem ser usadas para resolver problemas ou responder a questões de testes, a Cluely distingue-se por ser especificamente comercializada para facilitar a batota. Perante este cenário, Emilly Fidelix sugere que as instituições de ensino precisam de adaptar as suas estratégias. "Ignorar a existência destas plataformas não é solução. É crucial conhecê-las e criar políticas institucionais claras e atualizadas sobre o uso de IA. Os processos formativos e de atualização tornam-se essenciais", conclui.

 

A Cluely personifica, assim, um dilema ético crescente na era da inteligência artificial: até que ponto devem ser desenvolvidas e utilizadas ferramentas que, por desenho, visam contornar o esforço, a aprendizagem e a avaliação honesta? A resposta a esta questão terá, certamente, implicações profundas no futuro da educação e do trabalho.

 




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