Já aqui tínhamos falado, em março de 2024, sobre a possibilidade da OpenAI e da Microsoft se unirem num gigantesco projeto de supercomputador para Inteligência Artificial (IA), com um custo estimado em até 100 mil milhões de dólares. Mais tarde, em janeiro de 2025, foi formalmente anunciado o "Projeto Stargate", desta vez com a SoftBank, a Oracle e a MGX, prometendo um investimento colossal de até 500 mil milhões de dólares em infraestrutura de IA nos Estados Unidos até 2029. Contudo, notícias recentes indicam que este ambicioso projeto está a encontrar ventos cada vez mais contrários, em grande parte devido a políticas implementadas durante a administração de Donald Trump.
O que é o ambicioso Projeto Stargate?
O Stargate foi concebido para ser uma vasta rede de centros de dados, destinada a impulsionar a próxima geração de inovação em IA. O objetivo é que se torne, potencialmente, na maior instalação de treino de IA do mundo, assegurando a liderança dos Estados Unidos na inteligência artificial e criando uma cadeia de fornecimento de hardware para IA em solo americano. A OpenAI é responsável pela gestão das operações, enquanto a SoftBank lidera os esforços de financiamento.
As dificuldades de financiamento e o espectro das tarifas
No entanto, angariar a colossal quantia necessária – inicialmente 100 mil milhões de dólares "imediatamente", com planos para atingir o meio bilião (quinhentos mil milhões) – está a revelar-se uma tarefa árdua. A Bloomberg noticiou recentemente que as conversações para financiamento abrandaram drasticamente nos últimos meses. Apesar de discussões preliminares com dezenas de potenciais credores e investidores, como o Mizuho, JPMorgan, Apollo Global Management e Brookfield Asset Management, nenhum acordo foi ainda concretizado.
O principal obstáculo parece residir na incerteza económica gerada por políticas comerciais agressivas. Analistas da TD Cowen, liderados por Michael Elias, salientam que as tarifas alfandegárias poderão aumentar os custos de construção dos centros de dados entre 5% a 15%, ou até mais para alguns operadores. Isto deve-se ao facto de componentes essenciais, como bastidores de servidores, sistemas de arrefecimento e chips cruciais, estarem sujeitos a estas taxas. Este aumento nos custos de capital torna os potenciais credores e investidores de dívida mais hesitantes em embarcar num compromisso tão avultado e a longo prazo, especialmente perante os receios de uma possível recessão global que afete a procura por centros de dados.
Ameaças da concorrência e a evolução da IA
Além das tarifas e das preocupações económicas gerais, os financiadores estão também a ponderar outros riscos. O panorama da Inteligência Artificial está em constante e rápida evolução. Estão a surgir modelos mais económicos, como os de empresas como a DeepSeek, o que levanta questões sobre a rentabilidade a longo prazo de projetos diretamente ligados à tecnologia da OpenAI.
Apesar dos desafios, há desenvolvimentos e otimismo
Apesar destes desafios, nem tudo está paralisado. Aspetos do Stargate iniciados antes de a SoftBank assumir formalmente a liderança do financiamento estarão a progredir. Sam Altman, CEO da OpenAI, mencionou recentemente ter visitado o primeiro local de desenvolvimento, uma grande instalação em Abilene, no Texas, que está a ser desenvolvida pela Oracle. Este local continua nos eixos para se tornar um enorme centro de treino de IA e uma peça fundamental da cadeia de fornecimento de infraestrutura de IA dos EUA. A SoftBank estará também a analisar outros locais potenciais para além de Abilene.
Embora angariar os fundos necessários seja uma tarefa gigantesca, especialmente com a SoftBank a planear, segundo consta, fornecer apenas 10% a 20% em capital próprio e depender fortemente de financiamento por dívida de bancos e investidores institucionais, o fundador da SoftBank, Masayoshi Son, mantém-se otimista. Ele encara os atuais desafios do mercado como percalços temporários no caminho para uma futura e massiva procura por IA e os respetivos retornos financeiros.
Contexto económico e o impacto das tarifas no Stargate
Para contextualizar a pressão económica, é relevante notar que outras gigantes tecnológicas, como a Apple, ponderam aumentos de preços nos seus produtos (como o iPhone 17) devido, em parte, ao impacto das tarifas sobre bens importados para os EUA. Embora um recente cessar-fogo temporário de 90 dias na guerra comercial entre os EUA e a China tenha reduzido algumas taxas tarifárias (de valores que atingiram os 125% para 10%), a instabilidade e os custos acrescidos permanecem um desafio significativo. 1 Este é o complexo cenário económico que o ambicioso projeto Stargate tem de navegar para garantir o seu financiamento e futuro.
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