Um ano após o seu lançamento mediático, os óculos Vision Pro da Apple parecem estar a deixar um rasto de desilusão entre muitos dos seus primeiros adquirentes. Queixas sobre o peso excessivo, a escassez de aplicações úteis e o desconforto social associado ao seu uso são algumas das principais razões apontadas para o descontentamento, de acordo com um recente artigo do The Wall Street Journal, que entrevistou vários utilizadores.
O feedback recolhido sugere que o dispositivo não correspondeu às elevadas expectativas no que diz respeito ao conforto, suporte de software e aceitação social. Muitos dos Vision Pro encontram-se agora, na sua maioria, inutilizados devido a uma série de questões práticas.
O peso da desilusão: Conforto e utilidade em causa
Dustin Fox, um agente imobiliário de Centreville, Virgínia, partilhou a sua experiência: "Está simplesmente a acumular pó. Acho que o usei umas quatro vezes no último ano." O principal motivo? "É demasiado pesado. Não consigo usá-lo por mais de 20 ou 30 minutos sem que me magoe o pescoço." Fox, inicialmente atraído pela novidade e pelo potencial de produtividade, considerou a experiência física insustentável para sessões prolongadas. O Vision Pro pesa entre 600 a 650 gramas, dependendo da configuração, um valor considerável para um dispositivo de uso na cabeça, com a distribuição do peso na parte frontal a ser uma queixa recorrente.
Tovia Goldstein, um jovem de 24 anos de Nova Iorque, ecoa o sentimento, afirmando que a sua experiência a ver conteúdos foi limitada pelo desconforto e por um número insuficiente de aplicações que justificassem o esforço. "Depois de 60 minutos, não consegues mais, tens de o pousar. Não recomendaria a ninguém que o comprasse, a menos que seja muito rico e não saiba o que fazer com o dinheiro." Goldstein apontou ainda o demorado processo de arranque como um dissuasor, citando a necessidade de ligar a bateria externa e esperar vários minutos até o dispositivo estar operacional.
Do entusiasmo inicial ao constrangimento social e prático
O lançamento do Vision Pro foi marcado por uma grande visibilidade, incluindo um evento na loja principal em Nova Iorque com a presença do CEO da Apple, Tim Cook. Nas semanas seguintes, era comum ver utilizadores com os óculos em espaços públicos, mas esse entusiasmo parece ter diminuído rapidamente. "As pessoas estavam entusiasmadas por usá-lo. Depois, simplesmente morreu," comentou um dos compradores, que acrescentou sentir "total arrependimento." Dustin Fox considerou vender o seu Vision Pro, mas os valores de revenda caíram significativamente abaixo do preço original.
Anshel Sag, um analista de tecnologia de San Diego, tentou usar o Vision Pro para entretenimento a bordo de voos, mas abandonou a ideia devido ao desconforto social e questões práticas. "Recebi olhares bastante reprovadores das pessoas. Não preciso disso," afirmou. Além disso, o volume do dispositivo e da sua mala de transporte (vendida separadamente por 199 dólares, cerca de 183 euros à taxa de câmbio atual, com dimensões aproximadas de 30cm x 23cm x 16,5cm) tornava-o pouco prático para viagens: "Ocupa quase metade do volume da minha bagagem de mão."
Anthony Racaniello, operador de um estúdio de media na Filadélfia, enfrentou alienação social e desafios práticos ao tentar usar os óculos no trabalho e em viagens aéreas. Num voo de quase seis horas, relatou ter sido ignorado por uma hospedeira de bordo durante o serviço de bebidas. "Pareces estar a usar uma máscara de dormir. E as pessoas vão tratar-te dessa forma," disse ele, acrescentando que o "melhor" comentário que recebeu foi um riso ligeiro e a observação: "Parece que estás a usar óculos de esqui no trabalho." Racaniello acabou por vender o seu Vision Pro por 1.900 dólares (aproximadamente 1.748 euros), uma perda de 46% em relação ao preço de compra, e afirma não sentir falta do dispositivo.
Um vislumbre caro de um futuro ainda distante
Racaniello considera o Vision Pro "definitivamente um vislumbre do futuro," mas acha que "ainda está longe disso. Por agora, tens de colocar o que parece ser um MacBook Pro de 500 libras [uma hipérbole para realçar o peso], prendê-lo à tua cara e fazer com que as pessoas se riam de ti."
Yam Olisker, um YouTuber israelita de 20 anos, viajou até Nova Iorque para comprar o Vision Pro no lançamento e conseguiu a assinatura de Tim Cook na caixa. Apesar de tudo, confessa: "Esta é a primeira vez, de sempre, que acho que um produto da Apple foi um pouco prematuro, ou à frente do seu tempo. Uso-o muito menos do que esperava." Contudo, Olisker não se arrepende da compra e aprecia ver filmes com o Vision Pro, especialmente em 3D, referindo que ver um filme como "Metallica" o faz sentir "como se estivesse no concerto." Mesmo assim, o peso continua a ser um problema, obrigando-o a deitar-se na cama para mitigar o efeito enquanto assiste a filmes.
O futuro do Vision Pro: Atualização modesta no horizonte entre 2025 e 2026
Apesar das críticas e de um aparente abrandamento no desenvolvimento de um modelo Vision Pro substancialmente melhorado, existem fortes indicações de que a Apple lançará "uma atualização incremental ao produto com alterações limitadas ao seu design físico," como uma atualização de processador, segundo o site The Information. Corroborando esta informação, o analista Ming-Chi Kuo e Mark Gurman da Bloomberg afirmaram que uma segunda geração mais iterativa do Vision Pro está em desenvolvimento ativo, adicionando o chip M5 e pouco mais.
Espera-se que este modelo atualizado reutilize a maioria dos componentes do Vision Pro de primeira geração para compensar o excesso de inventário na cadeia de fornecimento da Apple. Gurman sugere que o dispositivo renovado poderá ser lançado entre o outono de 2025 e a primavera de 2026.
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