O derradeiro apagar das luzes cósmicas poderá ocorrer significativamente antes do que o lendário físico Stephen Hawking havia calculado. Esta é a conclusão intrigante de um grupo de cientistas holandeses que, num artigo publicado recentemente no Journal of Cosmology and Astroparticle Physics, revisitaram os estudos pioneiros do britânico sobre os enigmáticos buracos negros. Em 1975, Hawking propôs que estes gigantes cósmicos evaporariam de forma extremamente lenta, perdendo energia através de um fenómeno batizado de "radiação Hawking". Contudo, a nova investigação sugere que este processo de definhamento é, na verdade, um pouco mais acelerado.
A teoria de Hawking e o "atalho" cósmico dos holandeses
De acordo com os cálculos originais baseados no trabalho de Hawking, a evaporação completa dos buracos negros levaria uns impressionantes 10e1100 anos – um número 1 seguido de 1100 zeros, uma escala de tempo que desafia a imaginação. No entanto, os investigadores da Universidade Radboud, nos Países Baixos, trouxeram uma nova perspetiva.
As suas estimativas apontam para uma desintegração dos buracos negros em "apenas" 10e67 anos. Embora ainda seja um período de tempo vastíssimo, é consideravelmente inferior ao previsto inicialmente.
Quando o universo "apaga a luz": o destino final dos astros
A teoria da radiação Hawking não se aplica exclusivamente aos buracos negros. Assim, segundo este novo estudo:
- As estrelas de neutrões, corpos celestes ultra-densos, também levariam cerca de 1067 anos a desaparecer.
- Já as anãs brancas, o estado final da maioria das estrelas, resistiriam um pouco mais, evaporando ao fim de 10e78 anos.
Considerando que as anãs brancas são perspetivadas como os objetos celestes mais duradouros, o fim definitivo do universo, no que respeita ao desaparecimento destes remanescentes estelares, ocorreria então daqui a 10e78 anos. "Portanto, o fim definitivo do universo chega muito mais cedo do que o esperado, mas, felizmente, ainda leva muito tempo", comentou Heino Falcke, especialista em buracos negros e um dos autores do estudo, num comunicado divulgado.
E nós? A curiosa (e teórica) evaporação humana
De forma curiosa, a equipa de Falcke também calculou o tempo teórico de evaporação para outros objetos com campo gravitacional. Surpreendentemente, o corpo humano demoraria uns teóricos 10e90 anos a evaporar através de um processo análogo à radiação Hawking – mais tempo do que o próprio universo, tal como a Lua. No entanto, os cientistas apressam-se a ressalvar que, muito antes que tal fenómeno pudesse ocorrer, tanto os seres humanos como o nosso satélite natural seriam desintegrados por outros processos cósmicos bem mais "rápidos".
O apocalipse cósmico tem várias datas marcadas (algumas mais próximas)
É importante notar, como salienta o Live Science ao comentar este trabalho, que estes cálculos se referem ao desaparecimento dos últimos vestígios estelares. O universo, tal como o conhecemos, enfrentará outros "fins" muito antes disso.
Estudos cosmológicos indicam que a taxa de expansão do universo está a acelerar. Prevê-se que, dentro de 150 a 200 mil milhões de anos, a maioria das galáxias para lá do nosso Grupo Local se torne invisível a partir da Terra. Numa escala de tempo mais "curta", daqui a aproximadamente 5 mil milhões de anos, o nosso Sol, ao expandir-se para se tornar uma gigante vermelha, irá engolir a Terra.
Mesmo antes desse evento cataclísmico, o nosso planeta tornar-se-á inóspito. O aumento progressivo do brilho solar, daqui a cerca de 1 milhar de milhão de anos, criará condições climáticas extremas, impossibilitando a vida como a conhecemos. Se a humanidade não encontrar forma de rumar a outras paragens cósmicas até lá, esse poderá ser o nosso fim.
Ainda mais tarde, num universo já desprovido de estrelas ativas, prevê-se que ocorra o decaimento de protões, um fenómeno teórico onde os protões se transformariam noutras partículas. Só depois de todos estes eventos é que o lento processo de evaporação previsto por Hawking, e agora revisto pelos cientistas holandeses, representaria verdadeiramente o último suspiro do universo.
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