Um desgosto amoroso pode ser um dos momentos mais complicados e, por vezes, traumáticos na vida de uma pessoa. Perante as adversidades da vida, surgem geralmente dois perfis: aqueles que procuram ajuda profissional de saúde mental para ultrapassar a má fase e aqueles que depositam uma fé cega numa Inteligência Artificial (IA). Curiosamente, o segundo grupo parece estar a crescer.
Ainda que possa parecer insólito, já existe um modelo de inteligência artificial concebido especificamente para auxiliar as pessoas a superarem o fim de relações amorosas. A ideia poderia ser promissora, não fosse o facto de poder mascarar temporariamente um problema mais profundo – a nossa incapacidade de gerir fracassos – além de reacender o debate sobre o impacto destas tecnologias na nossa privacidade.
O que é a Closure e quem está por detrás desta IA?
A Closure, nome dado a esta inteligência artificial, nasceu de uma experiência pessoal da sua fundadora, Anna Iokhimovich, que sentiu na pele o fenómeno do ghosting. "O ghosting deixa as pessoas presas em conversas por concluir. Relembramos mensagens, procuramos motivos, escrevemos parágrafos que nunca chegaremos a enviar. A Closure começou como uma experiência para responder a uma pergunta simples: E se pudesses dizer aquilo que nunca tiveste oportunidade de dizer?", explica Iokhimovich.
Foi sob este pretexto que a fundadora considerou que todos necessitamos de um espaço seguro para encerrar as nossas histórias, mesmo quando a outra pessoa desaparece da nossa vida de forma abrupta.
Como funciona esta simulação de conversas com o "ex"?
Este modelo de inteligência artificial foi treinado com base em centenas de experiências partilhadas em fóruns na internet. Tem a capacidade de se colocar no lugar do ex-parceiro ou ex-parceira, permitindo ao utilizador conversar, expressar os seus sentimentos e, ficticiamente, receber um pedido de desculpas e os motivos do afastamento.
Segundo informações avançadas pelo site 404media, para tornar a simulação o mais fiel possível, a IA solicita informações sobre a pessoa que terminou a relação, bem como o contexto do relacionamento. O objetivo é compreender melhor a situação e oferecer respostas que pareçam realistas.
Após a recolha destes dados, é disponibilizado um chat conversacional através do qual o utilizador pode "falar" com o seu ex – agora personificado pela IA – para dar à sua história o encerramento que sentia ser necessário.
Privacidade em cheque: os riscos de partilhar a intimidade com uma IA
Conforme salienta o The Verge, este tipo de práticas pode acarretar um problema de fundo bastante preocupante: conceder às grandes empresas tecnológicas acesso aos nossos pensamentos e sentimentos mais íntimos.
Permitir que estas entidades "entrem" numa esfera tão privada da nossa vida, fornecendo-lhes, sem filtros, detalhes íntimos que nem sequer partilharíamos com as pessoas mais próximas, pode tornar-nos consideravelmente mais vulneráveis.
Saúde mental: uma máquina pode substituir a ajuda profissional?
Adicionalmente, a utilização desta IA pode também despoletar problemas de saúde mental significativos. Uma pessoa que recorre a uma inteligência artificial para lidar com este tipo de dificuldades emocionais é, frequentemente, alguém que necessita de ajuda profissional qualificada. Uma terapia e um tratamento direcionados às suas necessidades particulares são dificilmente substituíveis por uma máquina, por mais avançada que seja.
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