O investimento da Cloudflare em Portugal poderá estar em risco. Matthew Prince, CEO da gigante tecnológica norte-americana, não poupou nas críticas à situação atual do país, ameaçando mesmo cortar o investimento devido ao que considera serem promessas governamentais por cumprir e um ambiente burocrático cada vez mais hostil. As duras palavras surgem poucos meses após a empresa ter anunciado planos ambiciosos para expandir a sua presença em Lisboa, com a criação de até 500 novos postos de trabalho.
"Promessas quebradas e burocracia asfixiante"
Numa série de publicações na rede social X (anteriormente conhecida como Twitter), Matthew Prince foi perentório: "Portugal tem piorado de forma significativa desde que começámos a investir no país." O líder da Cloudflare acusa o Governo português de ter falhado em todas as promessas feitas para simplificar processos e facilitar a operação das empresas, especialmente no que toca à contratação. "Todas as promessas que o Governo fez para reduzir a burocracia, tornando mais fácil operar como empresa para tentar contratar, foram quebradas", desabafou Prince.
O CEO descreveu a situação como um "#clownshow" (que se pode traduzir livremente como "um circo" ou "espetáculo de palhaços"), apontando o dedo às dificuldades crescentes em várias frentes, com destaque para os processos de imigração e obtenção de vistos, que classifica como uma burocracia "sufocante". Prince manifestou ainda o seu cansaço perante garantias de melhorias futuras que tardam em materializar-se: "Estou sobretudo cansado de me dizerem que as coisas vão melhorar se investirmos mais, para apenas as tendências continuarem a piorar."
Portugal em xeque: futuro do investimento da Cloudflare incerto
A insatisfação de Matthew Prince é tal que o futuro do investimento da Cloudflare em Portugal parece agora incerto. "Se esta tendência continua, deixaremos de investir. E se o estamos a considerar fazer como empresa tecnológica, seriam loucos em fazê-lo sem fortes garantias do Governo", alertou o CEO.
Na sua análise, Portugal não fica bem posicionado quando comparado com outros mercados emergentes. Prince considera que países como "Colômbia, Chile, e talvez agora a Argentina" são "todos países mais sérios do que Portugal". Numa outra intervenção, ao comparar com nações do Médio Oriente, o gestor foi igualmente crítico, afirmando que "Portugal promete mais e entrega muito, muito menos."
Contraste amargo: o plano de expansão que pode não se concretizar
As críticas atuais contrastam fortemente com os planos anunciados em outubro de 2023. Nessa altura, a Cloudflare inaugurou novos escritórios em Lisboa e revelou a intenção de recrutar entre 400 a 500 novos colaboradores nos quatro anos seguintes. Este ambicioso projeto faria com que o hub tecnológico da empresa em Portugal alcançasse cerca de 800 pessoas, equiparando-se à dimensão da sua delegação em Austin, nos Estados Unidos.
Um histórico de descontentamento que vem de longe
As queixas de Matthew Prince relativamente às dificuldades sentidas em Portugal não são, no entanto, uma novidade. Já em 2018, durante uma visita a Lisboa para explorar a possibilidade de abrir um escritório da Cloudflare no país, o CEO recorreu à mesma rede social para expressar o seu desagrado com as longas filas na imigração do Aeroporto Humberto Delgado. "[Aterrei] em Lisboa para investigar a hipótese de abrir um escritório da Cloudflare aqui. A fila de duas horas para passar a imigração não causa uma boa primeira impressão", escreveu na altura.
Mais tarde, em 2021, um outro episódio contribuiu para o mal-estar. O afastamento da Cloudflare do processo dos Censos em Portugal, após uma intervenção da Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD), gerou desconforto na diplomacia norte-americana, com a encarregada de negócios dos EUA a admitir, na época, que poderiam existir consequências nas relações comerciais entre os dois países. As recentes declarações do CEO da Cloudflare vêm assim adensar um historial de frustrações com o ambiente de negócios em Portugal.
Nenhum comentário
Seja o primeiro!