Nick Clegg, antigo vice-primeiro-ministro do Reino Unido e com uma passagem de quase sete anos pela gigante tecnológica Meta, alertou que exigir o consentimento prévio de artistas para utilizar o seu conteúdo protegido por direitos de autor no treino de modelos de Inteligência Artificial (IA) resultaria no "colapso da indústria de IA no país da noite para o dia". Estas declarações surgem num momento de intenso debate sobre a legislação de direitos de autor na era da IA.
Clegg tomou o partido das empresas de tecnologia durante a sua intervenção, que ocorreu pouco depois de os deputados britânicos terem votado contra propostas que visavam permitir aos detentores de direitos de autor saber quando e por quem as suas obras foram utilizadas para treinar sistemas de IA.
"Exigir consentimento prévio? Implausível e fatal para a indústria de IA", avisa Clegg
Figuras proeminentes das indústrias criativas, incluindo nomes como Elton John e Paul McCartney, têm apelado ao governo britânico para que não "entregue o nosso trabalho" às grandes tecnológicas, sublinhando que tais planos arriscam destruir os meios de subsistência de cerca de 2,5 milhões de pessoas que trabalham no setor criativo do Reino Unido.
No entanto, Clegg classificou as exigências de um pedido de permissão prévia como "impraticáveis" e "implausíveis". O ex-executivo da Meta argumenta que os sistemas de IA já são treinados com vastas quantidades de dados que "já estão disponíveis publicamente". Durante um evento de promoção do seu livro "How to Save the Internet", a ser lançado em setembro, no Charleston Festival – um local histórico ligado ao grupo de artistas e intelectuais do início do século XX conhecido como Bloomsbury Group – Clegg defendeu a posição das tecnológicas.
Afirmou ainda que a inteligência artificial já possui a capacidade de "criar" a sua própria arte: "Já se pode criar arte de certo tipo [usando IA], seja um poema, uma cantiga, um ensaio, um conto, uma imagem. Já se consegue fazer isso."
A alternativa de Clegg: Um "opt-out" para artistas, mas não um pedido de permissão inicial
Questionado sobre se os artistas deveriam poder impedir que o seu conteúdo fosse utilizado para treinar modelos de IA, Clegg reconheceu: "Por um lado, sim, parece-me uma questão de justiça natural dizer às pessoas que devem poder optar por não ter a sua criatividade, os seus produtos, aquilo em que trabalharam, modelados indefinidamente. Isso não me parece descabido, o optar por sair."
Contudo, acrescentou: "Penso que a comunidade criativa quer ir mais longe. Muitas vozes dizem 'só podem treinar com o meu conteúdo se pedirem primeiro'. E tenho de dizer que isso me parece algo implausível, porque estes sistemas treinam com quantidades enormes de dados."
"Não sei como se conseguiria andar a perguntar a toda a gente primeiro. Simplesmente não vejo como isso funcionaria. E, já agora, se o fizéssemos na Grã-Bretanha e mais ninguém o fizesse, basicamente mataríamos a indústria de IA neste país da noite para o dia", reforçou Clegg. "Portanto, penso que as pessoas devem ter formas claras e fáceis de usar para dizer 'não, não quero isto'. Mas esperar que a indústria, tecnologicamente ou de outra forma, peça preventivamente antes sequer de começar a treinar – simplesmente não vejo. Receio que isso colida com a própria física da tecnologia."
Criadores em alerta: Parlamento britânico rejeita maior transparência sobre uso de obras por IA
Na passada quinta-feira, o Parlamento britânico debateu a necessidade de ambos os setores, tecnológico e criativo, prosperarem para o crescimento da economia do Reino Unido. Numa votação de 195 contra 124, os deputados rejeitaram uma emenda proposta pela Baronesa Kidron ao Projeto de Lei de Dados (Uso e Acesso), que visava precisamente aumentar a transparência no uso de obras protegidas.
Nick Clegg deixou o seu cargo de presidente de assuntos globais na Meta no início deste ano, após sete anos em Silicon Valley. A sua saída ocorreu poucas semanas antes do regresso de Donald Trump à Casa Branca.
Nenhum comentário
Seja o primeiro!