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Pessoas numa passadeira em negativo

 

Cientistas identificaram uma toxina produzida por bactérias que poderá estar a desempenhar um papel crucial no aumento alarmante de casos de cancro colorretal entre os mais jovens. Uma investigação internacional, encabeçada pela Universidade da Califórnia, San Diego (UC San Diego) e envolvendo peritos de 11 países, sugere que a colibactina – uma substância tóxica produzida por certas estirpes da bactéria Escherichia coli – pode provocar danos no ADN capazes de levar ao desenvolvimento de cancro antes dos 50 anos. As descobertas foram publicadas na prestigiada revista científica Nature.

 

A investigação ao genoma do cancro e as pistas da colibactina

 

Para desvendar o mistério por detrás do aumento da incidência de cancro colorretal em adultos jovens, os investigadores analisaram 981 genomas de cancro de pacientes de diversas partes do globo. A análise revelou que, enquanto os cancros com ADN instável não variavam significativamente entre países, os cancros microssatélite-estáveis apresentavam diferenças notáveis nos padrões e na quantidade de mutações.

 

Curiosamente, certas mutações no ADN foram mais frequentes em países como Argentina, Brasil, Colômbia, Rússia e Tailândia, sugerindo a influência de fatores ambientais ou exposições microbianas locais. A presença da toxina bacteriana colibactina foi detetada com maior frequência em locais com taxas mais elevadas de cancro colorretal, reforçando o seu potencial papel na doença.

 

Ludmil Alexandrov, investigador principal do estudo na UC San Diego, explicou que os padrões de mutação encontrados nos genomas do cancro funcionam como um registo histórico. Estes "assinaturas" indicam uma possível exposição à colibactina no início da vida como um fator que contribui para o aparecimento precoce da doença.

 

Mutações específicas e o impacto no gene APC

 

O estudo identificou que dois padrões de mutação específicos – denominados SBS88 e ID18 – associados à colibactina, foram encontrados 3,3 vezes mais frequentemente em pacientes diagnosticados antes dos 40 anos, em comparação com aqueles diagnosticados após os 70. A toxina foi também associada a mutações no gene APC (Adenomatous Polyposis Coli), um gene supressor de tumores fundamental na regulação do crescimento e divisão celular e, por conseguinte, essencial no combate a anomalias como tumores e cancro. Nos casos em que a exposição à colibactina foi confirmada, cerca de 25% das mutações no gene APC resultaram de alterações no ADN relacionadas com o padrão ID18.

 

Exposição precoce, consequências tardias

 

Os cientistas acreditam que a exposição a bactérias produtoras de colibactina pode ocorrer muito cedo na vida, possivelmente durante a infância. Estas exposições levariam a pequenas mutações no ADN que, décadas mais tarde, poderiam aumentar significativamente o risco de desenvolver cancro. Alexandrov salientou que "se alguém adquire uma destas mutações precoces por volta dos 10 anos de idade, pode acabar por desenvolver cancro colorretal muito mais cedo do que o esperado, potencialmente aos 40 anos em vez dos 60."

 

O número de jovens adultos diagnosticados com cancro colorretal duplicou em muitos países ao longo dos últimos 20 anos, um fenómeno que a comunidade científica ainda luta para compreender totalmente. Ao contrário de pacientes mais velhos, os indivíduos mais jovens diagnosticados com esta doença frequentemente não apresentam os fatores de risco comuns, como obesidade ou historial familiar de cancro colorretal. Este facto tem levado os investigadores a explorar causas ambientais ou microbianas ocultas, com a colibactina a emergir agora como uma forte suspeita.

 

Próximos passos e desafios no horizonte

 

A equipa de investigação, integrada no esforço mais amplo do Cancer Grand Challenges team Mutographs – que já examinou padrões de mutação do ADN em vários tipos de cancro, incluindo esófago, rins, cabeça e pescoço – está agora focada em responder a várias questões chave. Entre elas, como ocorre a exposição a estas bactérias produtoras de colibactina, se determinados estilos de vida ou dietas aumentam essa exposição, e se os probióticos poderiam ajudar a eliminar as bactérias nocivas de forma segura.

 

No entanto, a investigação futura poderá enfrentar obstáculos de financiamento. Grande parte deste trabalho depende do apoio dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos, mas os cortes orçamentais propostos podem colocar em risco projetos cruciais. Alexandrov enfatizou que "se os cortes no financiamento do NIH interromperem esta investigação, isso poderá ter um impacto negativo nos estudos sobre o cancro em todo o mundo."

 

Os cientistas esperam que o financiamento contínuo permita desenvolver estratégias de prevenção eficazes para o cancro colorretal de início precoce. Suspeitam também que muitos cancros podem começar muito mais cedo na vida do que se pensava anteriormente, desafiando as conceções atuais sobre o início da doença. Esta linha de investigação, conclui Alexandrov, está a remodelar a compreensão do cancro, sugerindo que exposições ambientais ou influências microbianas na primeira infância podem desempenhar um papel significativo no desenvolvimento do cancro mais tarde na vida.




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