O YouTube voltou a estar no centro de uma polémica sobre a moderação de conteúdo, desta vez ao remover um vídeo do popular criador de tecnologia Jeff Geerling. O vídeo em questão, publicado em maio de 2024, demonstrava como utilizar um Raspberry Pi 5 com o LibreELEC para criar um centro de multimédia capaz de reproduzir conteúdo em 4K, servindo como uma alternativa à Apple TV.
Em junho de 2025, mais de um ano após a sua publicação e com mais de meio milhão de visualizações, o vídeo foi subitamente removido. A justificação do YouTube enquadrou-o na política de "Conteúdo nocivo ou perigoso", alegando que o vídeo ensinava a "obter acesso não autorizado ou gratuito a conteúdo audiovisual, software, serviços de subscrição ou jogos que normalmente exigem pagamento".
A defesa de Geerling e a recusa do YouTube
Jeff Geerling refutou veementemente as acusações da plataforma. Num comunicado detalhado no seu blogue pessoal e num tópico no GitHub, o criador esclareceu: "Eu evito propositadamente demonstrar qualquer uma das ferramentas que são popularmente usadas para contornar a compra de filmes, séries e outro conteúdo multimédia".
Geerling fez questão de sublinhar que todo o conteúdo exibido no vídeo provinha do seu próprio sistema de armazenamento em rede (NAS) e que tinha sido adquirido de forma totalmente legal. Apesar do seu apelo e dos esclarecimentos, o YouTube manteve a decisão de remover o vídeo, ao contrário do que já tinha acontecido no passado.
Um histórico de falsos positivos
Esta não é a primeira vez que Geerling enfrenta este tipo de problema com os algoritmos do YouTube. Em outubro de 2024, um vídeo seu sobre a configuração do Jellyfin, um servidor de multimédia de código aberto para organizar e transmitir ficheiros pessoais, foi igualmente penalizado pela mesma razão. No entanto, nessa ocasião, o YouTube reverteu a decisão rapidamente após o apelo. Desta vez, a recusa foi definitiva.
O software em destaque no vídeo mais recente, o LibreELEC, é um sistema operativo legítimo e leve, desenhado especificamente para transformar pequenos computadores, como o Raspberry Pi, em centros de multimédia dedicados, não tendo qualquer funcionalidade inerentemente ilegal.
O paralelo com o caso youtube-dl
Toda esta situação evoca memórias do infame caso da ferramenta de linha de comandos youtube-dl. Esta aplicação, utilizada por inúmeros utilizadores para fins perfeitamente legais — como descarregar vídeos de domínio público ou fazer cópias de segurança dos seus próprios conteúdos —, foi alvo de um pedido de remoção por parte da RIAA (Associação da Indústria Discográfica da América), que a classificou como uma ferramenta de pirataria.
A comunidade tecnológica e organizações como a Electronic Frontier Foundation uniram-se em defesa do projeto, argumentando que uma ferramenta com potencial para uso indevido não é automaticamente ilegal. Graças a essa pressão, o youtube-dl foi restaurado. Para os interessados, vale a pena notar que, com o projeto original aparentemente sem manutenção desde 2021, uma alternativa muito popular e ativamente desenvolvida é o seu fork, o yt-dlp.
A "formação" forçada e o futuro do vídeo
Após a rejeição do seu apelo, Jeff Geerling foi obrigado a completar uma "formação sobre as políticas" do YouTube para evitar uma penalização mais severa e permanente no seu canal. O criador acabou por ceder e realizar a referida formação.
Para quem tiver curiosidade em assistir ao conteúdo original, Geerling disponibilizou o vídeo removido na íntegra no Internet Archive, garantindo que o conhecimento partilhado não se perdesse.
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