A Nvidia avançou oficialmente com o lançamento da sua plataforma de software para veículos autónomos, a DRIVE AV. No entanto, a própria empresa coloca alguma água na fervura, admitindo numa entrevista a uma publicação britânica que os veículos totalmente autónomos provavelmente não serão uma realidade na próxima década.
A gigante dos chips e da inteligência artificial anunciou no seu evento GTC em Paris que a plataforma de software Nvidia DRIVE AV está agora em plena produção. A empresa afirma que esta oferece à indústria automóvel uma "base robusta para a mobilidade alimentada por IA", especialmente quando combinada com o seu próprio hardware.
Uma plataforma modular para diferentes níveis de autonomia
A Nvidia descreve a plataforma DRIVE como sendo modular e flexível, permitindo que os fabricantes de automóveis implementem todo o conjunto de funcionalidades ou apenas um subconjunto das capacidades de assistência ao condutor. Atualmente, estas incluem perceção do ambiente circundante, mudanças de faixa automatizadas, estacionamento autónomo e sistemas de segurança ativa.
Estas funcionalidades destinam-se a veículos com autonomia de nível 2+ e nível 3. Isto significa que a plataforma da Nvidia ainda não está preparada para veículos 100% autónomos (nível 5), embora a empresa garanta que oferece um "caminho transparente" para níveis mais elevados de automação, à medida que a tecnologia e a regulamentação evoluem.
Um balde de água fria vindo da própria empresa
A confirmação de que ainda há um longo caminho a percorrer veio do próprio vice-presidente da equipa automóvel da Nvidia, Ali Kani. No início deste ano, numa entrevista concedida à Autocar, Kani admitiu que os carros verdadeiramente autónomos "não irão aparecer nesta década", classificando a tecnologia como "super-difícil".
Segundo Kani, a dificuldade reside no facto de a geração atual de sistemas de assistência ao condutor funcionar através do planeamento de ações pré-definidas. Em contrapartida, os carros totalmente autónomos necessitarão de aprender a comportar-se de forma mais natural e imprevisível, o que é um desafio muito mais complexo.
Esta perspetiva contrasta com os esforços de empresas como a Tesla, cujo CEO, Elon Musk, tem vindo a testar os seus Model Y em modo de condução autónoma nas ruas de Austin, no Texas, embora existam dúvidas consideráveis sobre a segurança destes sistemas.
A aposta na segurança e na unificação da IA
A Nvidia justifica o seu investimento com o potencial para tornar as estradas mais seguras, apontando que a maioria dos acidentes de viação está ligada a fatores humanos como a distração ou o erro de julgamento.
A abordagem da plataforma DRIVE é unificar funções que tradicionalmente eram modulares e separadas — como a perceção, previsão, planeamento e controlo. Para tal, recorre a deep learning e a modelos de IA treinados com enormes volumes de dados de condução humana. O objetivo é que o software processe os dados dos sensores e controle diretamente as ações do veículo, eliminando a necessidade de regras pré-definidas e permitindo uma tomada de decisões mais semelhante à humana.
Para suportar esta complexa plataforma de software, a Nvidia promove um ecossistema de hardware composto por:
- O computador de bordo Nvidia DRIVE AGX, de grau automóvel.
- Os sistemas Nvidia DGX e GPUs para o treino dos modelos de IA.
- As plataformas Omniverse e Cosmos, a correr em sistemas Nvidia OVX, para simulação e geração de dados sintéticos.
Vários fabricantes de renome já anunciaram a intenção de adotar a plataforma DRIVE, incluindo a chinesa BYD, o maior fabricante de veículos elétricos do mundo, juntando-se a gigantes como Mercedes-Benz, Toyota, Volvo e Volkswagen.
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