O sonho de voar esteve, durante muito tempo, reservado a uma elite capaz de adquirir e manter um avião particular. No entanto, essa realidade está a mudar drasticamente. A combinação de componentes de motorização elétrica, cada vez mais compactos e potentes, com uma nova onda de inovação, está a dar origem a máquinas voadoras que tornam o ato de voar, em alguns casos, mais acessível do que conduzir.
A resposta está na categoria de aviação conhecida como "ultraleves". Trata-se de pequenas aeronaves para um único ocupante que, em muitas jurisdições, não exigem certificados de aeronavegabilidade ou licença de piloto para serem operadas. As regras são simples mas estritas: um peso total inferior a 115 kg e uma velocidade máxima de 102 km/h. A sua operação está limitada a voos diurnos ou ao crepúsculo, sendo proibido sobrevoar "qualquer área congestionada de uma cidade".
Tradicionalmente, estes aparelhos usavam motores a gasolina de dois ou quatro tempos. Contudo, a evolução dos motores elétricos e das baterias de iões de lítio tornou a propulsão elétrica a escolha ideal para estes voos recreativos. Oferecem uma operação quase silenciosa, binário instantâneo, manutenção mínima e custos de operação muito reduzidos, superando em muito os seus equivalentes a combustão.
A queda nos preços destes componentes significa que, hoje, é possível comprar uma aeronave totalmente elétrica por um valor inferior ao de muitos carros usados.
Aerolite EV-103: o avião elétrico para o comum mortal
O primeiro destaque é um verdadeiro avião elétrico. Com uma envergadura de quase 8,2 metros, o Aerolite EV-103 é descrito como uma das primeiras aeronaves ultraleves de asa fixa totalmente elétricas a ser verdadeiramente viável no mercado. Utiliza a comprovada estrutura do Aerolite, que durante anos serviu de base para inúmeros ultraleves a gasolina, mas com as modificações necessárias para albergar um motor elétrico com um pico de 22 kW.
A ficha técnica aponta para uma velocidade máxima de 102 km/h, o limite legal para a categoria. A autonomia, no entanto, depende da configuração da bateria. O sistema exige um mínimo de duas baterias de 2,6 kWh cada, que oferecem um tempo de voo de cerca de 20 minutos. É possível, no entanto, instalar três ou quatro baterias, aumentando a autonomia para 30 ou 40 minutos, respetivamente, em velocidade de cruzeiro. Cada bateria pesa 16 kg e pode ser removida para carregamento individual numa tomada doméstica comum.
Em termos de preço, o kit de montagem da estrutura custa cerca de 17.950 dólares (aproximadamente 16.700 euros). O sistema de propulsão elétrico começa nos 10.376 dólares (cerca de 9.650 euros) para o pacote de duas baterias. Para quem prefere uma solução chave na mão, as versões prontas a voar estão disponíveis por valores que variam entre 32.326 e 39.052 dólares (cerca de 30.000 a 36.300 euros), dependendo do número de baterias. É um valor considerável, mas incomparavelmente mais baixo que outras opções no mercado da aviação elétrica.
SP140: o paramotor elétrico para máxima liberdade e portabilidade
Se os valores acima ainda parecem elevados e a ideia de uma asa fixa não é um requisito, os paramotores elétricos surgem como uma alternativa ainda mais económica. Por apenas 6.759 dólares (cerca de 6.300 euros), o paramotor elétrico SP140 permite voar com um motor de 21 kW. A sua velocidade é mais modesta, limitada pela asa de parapente a cerca de 56 km/h, mas o tempo de voo é substancialmente maior.
Desenvolvido por Paul Vavra, o SP140 foi projetado para ser uma solução de código aberto, segura e acessível. A bateria base de 2,6 kWh garante entre 20 a 40 minutos de voo, enquanto a opção de 4,8 kWh pode manter o piloto no ar por até 80 minutos.
As vantagens face a um avião ultraleve são evidentes: simplicidade, portabilidade e acessibilidade. Não necessita de pista ou hangar, pode ser transportado na bagageira de um carro e lançado a partir de qualquer campo aberto. Todo o sistema pesa entre 25 e 35 kg e, segundo o fabricante, pode ser montado em menos de cinco minutos, sem ferramentas.
O custo de operação é outro argumento esmagador. Enquanto um paramotor a gasolina pode custar entre 7 e 11 euros por hora de voo, o SP140 tem um custo estimado de apenas 0,56 euros por hora. Esta democratização dos céus, como destacado numa análise do site Electrek, mostra que o futuro do voo pessoal pode ser muito mais silencioso, limpo e, surpreendentemente, acessível.
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