O pânico instalou-se entre os criadores de conteúdo no TikTok. A causa? Uma alteração recente nos termos de serviço da CapCut, a popular aplicação de edição de vídeo da ByteDance, a mesma empresa-mãe do TikTok. Muitos utilizadores temem que, ao aceitar as novas regras, estejam a ceder direitos quase ilimitados sobre os seus próprios vídeos.
A controvérsia explodiu nas redes sociais, com inúmeras publicações a alertar para as novas cláusulas. Mas, afinal, o que mudou e será que o receio se justifica?
A polémica que incendiou o TikTok
A discussão foi amplificada por uma criadora de conteúdos, @bymilaholmes, numa publicação que já ultrapassou os sete milhões de visualizações. Segundo ela, os novos termos, atualizados a 12 de junho, são particularmente perigosos por duas razões principais:
- A CapCut passaria a ter uma licença de utilização sobre todo o conteúdo carregado para a plataforma.
- Como o utilizador ainda detém os direitos de autor, poderia ser responsabilizado legalmente se a CapCut utilizasse o seu conteúdo de forma indevida (por exemplo, usando uma música protegida sem autorização).
Esta interpretação gerou uma onda de preocupação, levando muitos a questionar se deveriam continuar a usar a ferramenta de edição que se tornou quase um padrão para o TikTok.
O que dizem (realmente) os novos termos de serviço?
Uma análise atenta aos termos de serviço da CapCut revela, de facto, uma linguagem jurídica que pode parecer intimidante. A secção sobre licenças de conteúdo do utilizador inclui termos como uma "licença incondicional, irrevogável, não exclusiva, isenta de royalties, totalmente transferível (incluindo sublicenciável), perpétua e mundial" para usar, modificar, reproduzir, distribuir e até criar obras derivadas do conteúdo do utilizador.
Este texto permite, por exemplo, que a CapCut utilize um vídeo de um utilizador numa campanha publicitária, dando-lhe os devidos créditos, sem precisar de uma autorização adicional ou de pagar por isso. À primeira vista, soa a uma apropriação quase total da propriedade intelectual.
Uma prática assustadora, mas comum na indústria
No entanto, antes de apagar a aplicação, é importante ter algum contexto. Outros criadores, como @seansvv, que se dedica a analisar este tipo de cláusulas, argumentam que o pânico pode ser exagerado. Segundo ele, esta linguagem não é nova nem exclusiva da CapCut.
A licença que a CapCut solicita é, em grande parte, necessária para que a própria aplicação funcione. Para que possa armazenar, modificar e exibir os seus vídeos em diferentes formatos, a plataforma precisa desta permissão legal.
Uma rápida comparação com outras plataformas populares confirma que esta prática é o padrão da indústria:
- TikTok: Os termos de serviço da própria rede social contêm uma cláusula quase idêntica, concedendo uma "licença mundial perpétua, incondicional, irrevogável, não exclusiva, isenta de royalties e totalmente transferível" para usar e distribuir o conteúdo dos utilizadores.
- Instagram: Nos seus termos de utilização, a plataforma da Meta também exige uma "licença não exclusiva, isenta de royalties, transferível, sublicenciável e mundial para alojar, usar, distribuir, modificar, executar, copiar, exibir ou apresentar publicamente, traduzir e criar obras derivadas" do conteúdo partilhado.
Essencialmente, a linguagem que está a causar alarme na CapCut é muito semelhante à que milhões de utilizadores já aceitaram para usar o TikTok, Instagram, Facebook e muitas outras plataformas digitais.
Então, devo deixar de usar a CapCut?
A verdade é que os termos de serviço são complicados e, muitas vezes, escritos de forma a dar a máxima proteção legal às empresas. Embora seja compreensível o desconforto ao ceder licenças tão amplas, não significa necessariamente que a ByteDance planeia roubar e vender os seus vídeos.
Esta situação serve como um importante lembrete: ao utilizar serviços online "gratuitos", o utilizador está a "pagar" com os seus dados e com a cedência de certos direitos sobre o seu conteúdo. É uma condição inerente à participação no ecossistema digital atual.
A decisão de continuar a usar a CapCut é pessoal. No entanto, o pânico parece ser desproporcional, dado que estas cláusulas são uma prática comum e não uma novidade maliciosa. Estar ciente do que se aceita é fundamental, mas abandonar a aplicação pode não ser a solução, a menos que se encontre uma alternativa com termos fundamentalmente diferentes, o que é improvável no mercado atual.
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