A mais recente controvérsia em torno de Elon Musk não envolve foguetões ou comentários políticos, mas sim uma instalação que está a colocar em risco a saúde dos seus vizinhos em Memphis, nos EUA. A sua startup de inteligência artificial, xAI, enfrenta a ameaça de um processo federal por, alegadamente, alimentar o seu massivo centro de dados com uma central elétrica a gás que opera sem as devidas licenças.
O centro nevrálgico deste conflito é o "Colossus", a infraestrutura onde a xAI treina os seus modelos de IA com centenas de milhares de processadores especializados da Nvidia. Para satisfazer a enorme necessidade energética destes componentes, a empresa instalou dezenas de turbinas a gás natural. Agora, a organização ambiental Southern Environmental Law Center (SELC) ameaça processar a xAI por "violações flagrantes" da Lei do Ar Limpo dos Estados Unidos.
Fotografias aéreas e câmaras térmicas como prova
De acordo com a notificação enviada pela SELC, a xAI instalou e operou, durante o último ano, pelo menos 35 turbinas de combustão e outras fontes de poluição atmosférica nas instalações do Colossus, sem nunca ter obtido as licenças de construção ou operação necessárias.
Perante a "falta de transparência da xAI e a resposta ambígua das autoridades locais", que chegaram a sugerir que as turbinas estariam "isentas de licenciamento", a SELC contratou um fotógrafo aéreo para documentar a situação. As imagens confirmaram que, em março, existiam 35 turbinas em operação. Em abril, pelo menos 33 continuavam a funcionar a todo o vapor, emitindo enormes quantidades de calor.
Um terceiro voo de reconhecimento, realizado a 15 de junho, revelou que, longe de estarem a ser removidas, ainda permaneciam 26 turbinas no local. Mais grave ainda, a xAI instalou três novas turbinas de maior dimensão. A capacidade total de geração de energia é agora de aproximadamente 407 megawatts, apenas 14 MW abaixo do pico registado em março.
Autoridades defendem a xAI
No início de maio, a Câmara de Comércio de Greater Memphis emitiu um comunicado numa tentativa de acalmar a situação. A organização afirmou que as turbinas eram "temporárias" e que seriam "desligadas e retiradas" nos dois meses seguintes, assim que o centro de dados fosse ligado à rede elétrica principal.
No mesmo comunicado, era assegurado que cerca de metade das turbinas permaneceria no local para alimentar a Fase II do projeto Colossus, até que uma segunda subestação ficasse pronta. A partir desse momento, as turbinas passariam a funcionar apenas como um sistema de emergência.
O custo ambiental na "capital da asma" dos EUA
A questão torna-se particularmente preocupante quando se considera que Memphis já possui uma das piores qualidades de ar dos Estados Unidos. Em 2024, a cidade foi designada como a "capital da asma" do país, devido às suas elevadas taxas de idas às urgências e mortes relacionadas com esta doença respiratória.
Uma central a gás com uma capacidade de 400 MW tem o potencial de emitir mais de 2.000 toneladas de óxidos de nitrogénio (NOx) por ano, compostos químicos que são precursores do smog. Enquanto empresas como a xAI, OpenAI e Google competem para desenvolver os modelos de IA mais poderosos, a infraestrutura necessária para os alimentar está a levar as redes elétricas ao limite e, como este caso demonstra, pode levar as empresas a ignorar regulamentações com custos ambientais significativos.
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