A Meta continua a debater-se com a aplicação das suas próprias regras no que toca a conteúdos gerados por Inteligência Artificial (IA), e a paciência do seu órgão de fiscalização parece estar a esgotar-se. O Conselho de Supervisão da empresa voltou a criticar duramente a gigante das redes sociais pela sua gestão de publicações manipuladas, classificando a sua incapacidade de aplicar as regras de forma consistente como "incoerente e injustificável".
Se esta crítica soa familiar, é porque não é a primeira vez. Esta é a segunda ocasião desde o ano passado que o conselho utiliza a palavra "incoerente" para descrever a abordagem da Meta a este tipo de conteúdo, demonstrando uma falha persistente em lidar com um problema cada vez mais premente.
Uma falha que se repete
A crítica anterior surgiu na sequência de um vídeo de Joe Biden, enganadoramente editado, que se tornou viral no Facebook. Na altura, o conselho já tinha instado a Meta a atualizar as suas políticas. Em resposta, a empresa de Mark Zuckerberg prometeu expandir o uso de rótulos para identificar conteúdo gerado por IA, aplicando avisos mais proeminentes em situações consideradas de "alto risco".
Contudo, segundo a mais recente decisão do conselho, esta abordagem continua a ser manifestamente insuficiente. "O Conselho está preocupado que, apesar da crescente prevalência de conteúdo manipulado em todos os formatos, a aplicação da política de media manipulada da Meta seja inconsistente", afirma o órgão. "A falha da Meta em aplicar automaticamente um rótulo a todas as instâncias do mesmo conteúdo manipulado é incoerente e injustificável."
O caso que espoletou a nova crítica
A nova repreensão foi motivada por uma publicação que alegava conter um áudio de dois políticos no Curdistão iraquiano. A suposta "conversa gravada" incluía uma discussão sobre a manipulação de eleições e outros "planos sinistros" para a região. A publicação foi denunciada à Meta por desinformação, mas a empresa encerrou o caso "sem revisão humana". Mais tarde, a Meta acabou por rotular algumas instâncias do clipe de áudio, mas não a que foi originalmente denunciada.
Segundo o conselho, este não é um caso isolado. A raiz do problema parece ser uma limitação técnica surpreendente para uma empresa da dimensão da Meta.
A "justificação" técnica da Meta não convence
Aparentemente, a Meta admitiu ao conselho que não consegue identificar e aplicar rótulos automaticamente a publicações de áudio e vídeo, sendo esta uma capacidade que possui apenas para "imagens estáticas". Isto significa que diferentes publicações com o mesmo clipe de áudio ou vídeo podem não receber o mesmo tratamento, causando ainda mais confusão entre os utilizadores.
O Conselho de Supervisão também criticou o facto de a Meta depender frequentemente de terceiros para identificar áudio e vídeo manipulados por IA em situações de alto risco, como aconteceu neste caso.
"Dado que a Meta é uma das principais empresas de tecnologia e IA do mundo, com os seus recursos e a vasta utilização das suas plataformas, o Conselho reitera que a Meta deve priorizar o investimento em tecnologia para identificar e rotular vídeo e áudio manipulados em grande escala", escreveu o conselho, questionando por que uma empresa com tal "perícia técnica e recursos" subcontrata esta tarefa crucial.
Recomendações claras e um prazo para responder
Face a estas falhas, o órgão fiscalizador emitiu recomendações claras. Exige que a Meta adote um "processo claro" para rotular de forma consistente "conteúdo idêntico ou semelhante" quando aplica um aviso de "alto risco". Além disso, recomendou que estes rótulos apareçam num idioma que corresponda às restantes configurações do utilizador no Facebook, Instagram e Threads.
A Meta não respondeu a um pedido de comentário sobre o assunto. A empresa tem agora 60 dias para responder às recomendações do conselho e mostrar se levará, finalmente, este "puxão de orelhas" a sério.
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