A Google anunciou um acordo para a compra de eletricidade de uma futura central de fusão nuclear, uma tecnologia considerada por muitos como o "Santo Graal" da energia limpa. Este passo demonstra a confiança do gigante tecnológico no potencial da fusão para alimentar os seus centros de dados, apesar de a tecnologia ainda ter um longo caminho a percorrer até se provar comercialmente viável.
O anúncio surge num momento crítico. O mais recente relatório de sustentabilidade da Google, divulgado na passada sexta-feira, revela que as suas emissões de gases com efeito de estufa continuam a subir, impulsionadas pela crescente procura energética da inteligência artificial. Mesmo no cenário mais otimista, os reatores de fusão não estarão operacionais a tempo de ajudar a empresa a cumprir a sua meta de reduzir as emissões até 2030.
O que é a fusão nuclear?
Investigadores de todo o mundo tentam há mais de meio século recriar na Terra o processo que alimenta o Sol e as outras estrelas. A fusão nuclear ocorre quando núcleos de átomos leves, como o hidrogénio, se fundem sob temperaturas e pressões extremas, libertando uma quantidade colossal de energia. Se for possível controlar este processo, o resultado será uma fonte de energia praticamente ilimitada e livre de emissões de carbono.
O desafio é imenso, exigindo temperaturas superiores a 100 milhões de graus Celsius. Um marco significativo foi alcançado em 2022, quando o Lawrence Livermore National Laboratory conseguiu, pela primeira vez, obter um ganho líquido de energia numa reação de fusão. No entanto, replicar este feito a uma escala comercial é outra história. Este processo difere da fissão nuclear, utilizada nas centrais nucleares atuais, que divide átomos e gera resíduos radioativos.
Um acordo para o futuro, mas um problema no presente
O acordo específico prevê que a Google compre 200 megawatts (MW) de "energia futura livre de carbono" à Commonwealth Fusion Systems (CFS), uma empresa privada na qual a Google também é investidora. A CFS está a construir a central de fusão e acredita que a tecnologia está a avançar de forma suficientemente rápida para ligar a sua primeira unidade à rede elétrica na Virgínia, nos EUA, no início da década de 2030.
"É uma tecnologia que vai mudar o mundo, na nossa opinião", afirmou Michael Terrell, diretor de energia avançada da Google. "Sim, existem sérios desafios de física e engenharia que ainda temos de ultrapassar... mas é algo em que queremos investir agora para concretizar esse futuro."
Contudo, a aposta no futuro contrasta com a realidade atual. O relatório de sustentabilidade da Google mostra que as emissões de carbono da empresa aumentaram mais de 50% desde 2019, ano de referência para a sua meta de redução. A expansão da inteligência artificial é um dos principais fatores para este aumento.
A corrida pela fusão não é só da Google
A Google e a CFS não estão sozinhas nesta corrida. Em 2023, a Microsoft fechou um acordo semelhante para comprar eletricidade a uma central de fusão desenvolvida pela Helion Energy, que se espera estar pronta em 2028. O interesse do setor privado é crescente, com investimentos em startups de fusão a atingirem cerca de 8 mil milhões de dólares nos últimos anos.
Este é o primeiro acordo de compra de energia de fusão da Google, mas a empresa já investia na CFS desde 2021 e noutra empresa do setor, a TAE Technologies, desde 2015.
Apesar desta aposta a longo prazo, a Google sublinha que as suas soluções mais imediatas para a descarbonização continuam a ser as energias eólica e solar. Desde 2010, a empresa assinou mais de 170 acordos para a compra de 22.000 MW de energia limpa, uma fração muito superior aos 200 MW prometidos pela fusão.
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