
A profunda reestruturação que a Intel está a levar a cabo para cortar custos está a ter consequências inesperadas que podem prejudicar a empresa a médio e longo prazo. Vários programadores essenciais para o desenvolvimento e manutenção de drivers e outros recursos para o sistema operativo Linux foram demitidos, levantando sérias preocupações sobre o futuro do suporte ao hardware da marca neste ecossistema.
Este movimento poderá ter um impacto significativo, especialmente no setor empresarial, onde o Linux domina e a reputação da Intel pode ficar comprometida.
Os cérebros por detrás do código
A otimização de hardware para um sistema operativo é um trabalho complexo e contínuo, que depende de especialistas dedicados. No entanto, a onda de demissões na Intel já atingiu figuras-chave nesta área. Segundo o site especializado Phoronix, um dos demitidos foi Mustafa Ismail, o principal responsável pela manutenção do driver da Intel para Ethernet com RDMA (Remote Direct Memory Access), uma tecnologia crucial em ambientes de rede de alto desempenho que permite a troca de dados diretamente na memória principal, sem sobrecarregar o processador.
Outro nome de peso que deixou a empresa é Tianfei Zhang, que mantinha o driver PTP DFL ToD, responsável pela gestão de tempo em chips FPGA (Field-Programmable Gate Array), componentes programáveis utilizados em diversas aplicações especializadas. Embora ainda exista um funcionário da Intel a trabalhar no driver RDMA, o driver para os chips FPGA encontra-se, neste momento, sem qualquer responsável pela sua manutenção.
Estes são apenas os exemplos mais recentes de uma tendência que se verifica desde fevereiro, com a Intel a dispensar engenheiros e programadores com um papel vital na ponte entre o seu hardware e o universo Linux.
Um risco calculado ou um tiro no pé?
Para o utilizador comum, estas demissões podem parecer distantes, mas as suas implicações são vastas. A ausência de especialistas dedicados pode levar a uma degradação do desempenho, a falhas de segurança por corrigir e a uma menor otimização do hardware da Intel em sistemas Linux. Isto é particularmente grave no setor corporativo e em servidores, um mercado onde a Intel compete ferozmente e onde o Linux é a escolha predominante.
A situação agrava-se quando recordamos que a Intel cancelou recentemente o Clear Linux, a sua própria distribuição que mantinha desde 2015, um sinal claro de que a aposta da empresa neste ecossistema está a diminuir.
Num cenário extremo, a própria comunidade de programadores open-source poderá ter de se organizar para garantir que o hardware da Intel não fica sem o suporte adequado. Contudo, o ideal seria que a própria fabricante continuasse a investir nesta colaboração vital, algo que, de momento, parece cada vez mais incerto.










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