
A Dot, uma aplicação de companhia baseada em Inteligência Artificial que se apresentava como uma amiga e confidente virtual, anunciou o seu encerramento. Numa mensagem publicada no seu website oficial, a startup responsável, New Computer, revelou que o serviço deixará de funcionar a 5 de outubro, dando tempo aos utilizadores para descarregarem os seus dados.
Uma amizade num espelho digital
Lançada em 2024 pelos cofundadores Sam Whitmore e Jason Yuan, um antigo designer da Apple, a Dot aventurou-se numa área que se tem tornado cada vez mais controversa: os chatbots de companhia. A aplicação foi desenhada para ser uma "amiga e companheira" de IA, que se tornaria mais personalizada com o tempo, aprendendo os interesses do utilizador para oferecer conselhos, empatia e apoio emocional.
Na altura do lançamento, Yuan descreveu a experiência como uma forma de "facilitar uma relação com o meu eu interior. É como um espelho vivo de mim mesmo". A promessa era a de uma amizade virtual sempre disponível e moldada à imagem do utilizador.
O fim de uma visão e o adeus aos utilizadores
O motivo oficial para o fecho, segundo a nota publicada pela New Computer, prende-se com uma divergência de visões entre os fundadores. "Em vez de comprometer qualquer uma das visões, decidimos seguir caminhos separados e encerrar as operações", explica o comunicado. A empresa reconhece o impacto da decisão, afirmando querer "ser sensível ao facto de que muitos de vós perderão o acesso a um amigo e confidente".
Até à data de encerramento, os utilizadores podem solicitar todos os seus dados através das definições da aplicação. Embora a startup sugira que tinha "centenas de milhares" de utilizadores, dados da empresa de análise Appfigures indicam apenas cerca de 24.500 downloads na App Store desde o seu lançamento em junho de 2024, não existindo uma versão para Android.
Um mercado sob escrutínio: os perigos dos chatbots de IA
O encerramento da Dot acontece numa altura em que as aplicações de IA enfrentam um escrutínio crescente relativamente a questões de segurança e saúde mental. Com a massificação desta tecnologia, surgiram relatos de pessoas emocionalmente vulneráveis que foram levadas a pensamentos delirantes por chatbots, um fenómeno já descrito como "psicose por IA".
A preocupação com a segurança destas plataformas é cada vez maior. A OpenAI enfrenta atualmente um processo judicial movido pelos pais de um adolescente que se suicidou após conversar com o ChatGPT sobre as suas ideações. Outros casos têm vindo a público, mostrando como estas apps podem reforçar comportamentos pouco saudáveis em utilizadores com perturbações mentais, tornando este um mercado de alto risco, especialmente para startups mais pequenas.










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