
O mercado automóvel chinês, um autêntico campo de batalha para os veículos elétricos, está prestes a sofrer uma reconfiguração drástica. O aviso, vindo de uma das maiores fabricantes do mundo, a BYD, não podia ser mais claro: a era da proliferação de marcas chegou ao fim e muitas não vão sobreviver à tempestade que se avizinha.
A declaração foi feita por Stella Li, vice-presidente executiva da BYD, que durante o Salão de Munique (IAA 2025) afirmou que "o mercado vai ter de eliminar muitos (fabricantes). Mesmo 20 produtores de automóveis já é demais". Uma previsão que antecipa o fim para dezenas de empresas num futuro muito próximo.
O fim da festa dos descontos
O catalisador para esta mudança radical é uma intervenção direta do Governo chinês. Pequim decidiu pôr um travão a fundo na agressiva guerra de preços que tem marcado o setor, pondo fim aos descontos massivos que muitas marcas usavam para atrair clientes. Esta prática, conhecida localmente como neijuan ("involução"), levou a uma situação insustentável, com 129 marcas a competir ferozmente no mercado chinês em 2024.
Para muitas destas empresas, os descontos eram a única forma de se manterem relevantes. "Sem poder oferecer descontos para atrair clientes, algumas construtoras não vão resistir", sublinhou Stella Li, antecipando uma onda de falências.
As contas não mentem: quem vai sobreviver?
Os números pintam um cenário sombrio para a maioria dos atuais fabricantes. Segundo a consultora AlixPartners, das 129 marcas a operar atualmente na China, apenas 15 terão viabilidade financeira para continuar a operar até 2030. A concorrente XPeng é ainda mais pessimista, prevendo que o setor automóvel a nível global possa ser dominado por apenas 10 grandes fabricantes na próxima década.
Nem os gigantes escapam à pressão
Apesar de ser uma das líderes mundiais, a própria BYD não está imune à pressão do mercado. No segundo trimestre, a empresa registou receitas e lucros abaixo das expectativas, um reflexo direto das novas políticas de Pequim.
As previsões do banco Citi já foram revistas em baixa, estimando que as vendas anuais da BYD passem de 5,8 milhões de unidades para 4,6 milhões em 2025, e de 8,4 milhões para 6,0 milhões em 2027. Uma quebra significativa, considerando que em 2024 a marca vendeu 4,3 milhões de veículos. Ainda assim, Stella Li mostra-se confiante na robustez da empresa.
A fuga para a Europa
Com o mercado interno a apertar, a expansão internacional torna-se uma necessidade. A BYD tem vindo a reforçar a sua presença na Europa, e a sua fábrica na Hungria deverá iniciar a produção do modelo Dolphin Surf ainda este ano. Outras marcas chinesas, como a Changan e a Leapmotor, esta última através de uma parceria com a Stellantis, também estão a apostar no mercado europeu.
Em contrapartida, os Estados Unidos continuam a ser uma "montanha" intransponível devido às elevadas tarifas sobre os veículos chineses. Como alternativa, a América do Sul tem sido o destino de centenas de milhares de carros exportados anualmente pela China.










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