
A forma como interagimos com as personagens não jogáveis (NPCs) nos videojogos pode estar prestes a mudar radicalmente. A Ubisoft anunciou um novo protótipo de jogo, denominado "Teammates", que utiliza inteligência artificial avançada para criar companheiros de equipa capazes de compreender comandos de voz em linguagem natural e, mais impressionante ainda, entender o contexto visual do ambiente.
Este projeto experimental surge como uma evolução dos "Neo NPCs", uma tecnologia que a editora francesa tinha demonstrado em parceria com a NVIDIA no início de 2024. A grande diferença agora reside na complexidade das interações e no facto de o sistema estar já a ser testado num ambiente fechado por "algumas centenas de jogadores", segundo a empresa.
Uma resistência distópica impulsionada por IA
Embora a Ubisoft classifique o "Teammates" como um "projeto de investigação experimental", o protótipo assume a forma de um first-person shooter (FPS) jogável. Os jogadores encarnam um membro da resistência num futuro distópico, com a missão de se infiltrar numa base inimiga para resgatar cinco membros da equipa. O sucesso da missão depende inteiramente da capacidade de liderar e coordenar os companheiros controlados pela IA.
Para dar vida a este conceito, foram criados três NPCs distintos:
Jaspar: Um assistente de IA com conhecimento profundo da história do jogo (lore) e capacidade para ajustar definições do jogo em tempo real.
Pablo e Sofia: Personagens robóticas fisicamente presentes no cenário, prontas a responder a ordens táticas.
O aspeto mais inovador reside na consciência visual destas personagens. Segundo a demonstração, se o jogador ordenar "esconde-te atrás de um barril", a Sofia não se limita a procurar qualquer objeto; ela analisa para onde o jogador está a olhar e posiciona-se adequadamente nesse contexto específico.
Personalidades ajustáveis e o futuro dos motores de jogo
Apesar de a tecnologia ser promissora, os primeiros testes indicaram que as personagens podiam ser excessivamente faladoras. Para contornar isso, a Ubisoft está a experimentar sistemas que permitem aos jogadores escolher conjuntos de personalidades para o Pablo e a Sofia. Uma das opções, curiosamente denominada "Bad Cat and Good Boy" (Gato Mau e Bom Rapaz), altera a forma como cada personagem se expressa e reage às situações.
Rémi Labory, Diretor de Dados e IA da Ubisoft, destaca que esta tecnologia "abre portas a experiências novas e personalizadas". Segundo o responsável, "a entrada do jogador molda as reações da personagem em tempo real, algo que o desenvolvimento tradicional não consegue alcançar".
Esta não é a primeira incursão da empresa na inteligência generativa. Em 2023, foi apresentada a ferramenta Ghostwriter para auxiliar na escrita de diálogos, e recentemente a editora admitiu ter publicado o jogo Anno 117: Pax Romana contendo arte gerada por IA nos ecrãs de carregamento.
O objetivo final do projeto "Teammates" não é necessariamente tornar-se um jogo comercial por si só, mas sim aprimorar a tecnologia subjacente. A Ubisoft sugere que o middleware criado para este projeto já funciona com os seus motores gráficos Snowdrop e Anvil, o que significa que estas mecânicas avançadas de IA poderão ser integradas em futuros títulos da empresa, transformando a dinâmica entre jogadores e NPCs.










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