
Conduzir à noite tornou-se um verdadeiro desafio para muitos automobilistas, que se queixam frequentemente de serem encandeados pelos veículos em sentido contrário. A culpada parece ser a evolução tecnológica: a transição das lâmpadas de halogéneo para os modernos LED trouxe mais visibilidade, mas também novos problemas de encandeamento que afetam a segurança rodoviária.
A ciência por trás do brilho intenso
A diferença tecnológica é abismal. Enquanto há pouco mais de uma década as lâmpadas de halogéneo emitiam cerca de 1300 lúmenes, as atuais lâmpadas LED podem facilmente superar os 4000 lúmenes, produzindo uma luz muito mais branca e intensa.
Segundo dados avançados pela consultora TRL, uns impressionantes 97% dos condutores afirmam ser distraídos, regular ou ocasionalmente, pelo brilho dos faróis de outros veículos. A análise técnica é reveladora: foram medidos picos de luminosidade de 63.566 cd/m², um valor muito acima do limite de 40.000 cd/m² que é considerado aceitável para o olho humano.
O impacto fisiológico é real. Conforme citado pelo deputado britânico Martin Wrigley, a recuperação da visão após ser atingido por este brilho intenso pode demorar entre 30 a 60 segundos — um intervalo de tempo perigoso quando se circula a velocidades de autoestrada ou estrada nacional.
Porque é que a regulação não resolve?
Apesar de existirem normas rigorosas, como a ECE R149, que regula a potência das luzes e à qual Portugal adere, existe uma lacuna técnica: as regras focam-se na intensidade da luz emitida, mas não consideram adequadamente a luminância — ou seja, a forma como o olho humano percebe esse brilho focado numa direção específica.
Além disso, o formato dos carros mudou. A popularidade dos SUV agravou a situação, uma vez que os seus faróis estão posicionados mais alto do que nos veículos ligeiros convencionais. Os dados indicam que nove em cada dez veículos associados a reclamações de encandeamento são SUVs, sendo que a maioria está equipada com tecnologia LED.
Verifique as suas próprias luzes
Antes de culpar os outros condutores, é crucial garantir que o seu veículo não faz parte do problema. O desalinhamento dos faróis é frequente e pode ocorrer devido ao desgaste natural da suspensão ou a pequenos toques no para-choques.
Existem formas simples de verificar e corrigir a situação:
Teste da parede: Estacione o carro a cerca de cinco metros de uma parede plana. As linhas de luz dos faróis de cruzamento (médios) devem ficar ligeiramente abaixo da altura dos faróis.
Ajuste de carga: Utilize o botão de regulação de altura dos faróis (normalmente situado à esquerda do volante) sempre que o carro estiver carregado com passageiros ou bagagem na mala, pois o peso extra levanta a frente do veículo.
Polimento: Se as óticas do seu carro estiverem opacas ou amareladas, a luz dispersa-se de forma irregular, podendo encandear quem vem de frente. O polimento ou substituição das lentes é essencial.
Como se proteger do encandeamento
Embora não existam soluções milagrosas, algumas práticas defensivas podem melhorar a segurança durante a condução noturna, conforme sugerem especialistas em segurança rodoviária:
Limpeza do para-brisas: Vidros sujos ou com gordura refratam a luz, "espalhando" o brilho dos faróis que vêm em sentido contrário e piorando o encandeamento.
Técnica de visão: Ao cruzar-se com um veículo com luzes muito fortes, desvie o olhar ligeiramente para a linha da berma direita da estrada, evitando olhar diretamente para a fonte de luz.
Espelhos: Utilize a patilha anti-encandeamento no espelho retrovisor interior (ou certifique-se que o modo automático está ativo) e ajuste os espelhos laterais para que não reflitam a luz diretamente para os seus olhos.
É importante recordar que o Código da Estrada proíbe o uso de luzes de estrada (máximos) no cruzamento com outros veículos, uma regra básica de civismo e segurança que, aliada à manutenção correta dos faróis regulamentada pelo Decreto-Lei n.º 317/2000, pode tornar as viagens noturnas mais seguras para todos.










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