Existe um argumento muito sólido para considerar a PlayStation 2 como a melhor consola de videojogos de todos os tempos. No entanto, não é altura para entrar em debates sobre franquias rivais ou teorias da conspiração sobre patrocínios. O que merece ser recordado é aquela era dourada da PS2, um tempo em que o mundo parecia mais vasto, o ritmo da mudança era surpreendente e o sentido de descoberta estava mais próximo de encontrar uma mensagem numa garrafa do que de fazer scroll num feed infinito. Quando a Sony lançou a PlayStation 2 há 25 anos, navegar pela biblioteca da consola era, por si só, uma verdadeira aventura.
O mundo antes da hiperligação
É verdade que o mundo no ano 2000 já tinha algumas semelhanças com o atual. A internet e os websites existiam, mas o acesso doméstico era escasso e, quando existia, era incrivelmente lento, muitas vezes limitado a curtos períodos diários que deixavam a linha telefónica ocupada, para desespero da família. Não era uma presença constante e onipresente nas nossas vidas. Os sites eram, na sua maioria, projetos mais pequenos e amadores, enquanto as revistas impressas ainda reinavam, especialmente as dedicadas ao universo PlayStation.
Um dos problemas frequentemente apontados à internet de hoje é o fluxo implacável de informação. Somos bombardeados com dados sobre tudo, quer tenhamos interesse ou não. Em contraste, em 2000, a informação era uma escolha ativa. Ler revistas de videojogos, lançadas mensalmente, era a forma de obter uma nova onda de novidades para digerir. Havia uma satisfação no que se sabia, mesmo que não se tivesse o quadro completo. O YouTube, um serviço que hoje é difícil imaginar não existir, só chegou em 2005, e demorou até se tornar o gigante de vídeo que é hoje. Conceitos como "Let's Plays", transmissões em direto ou guias de vídeo detalhados simplesmente não existiam de forma significativa, o que impactava profundamente a forma como os jogos eram descobertos e apreciados.
A magia de julgar um jogo pela capa
Uma grande parte do encanto da era PS2 estava ligada à forma como o retalho funcionava. Embora já existissem lojas online, os jogos digitais não eram uma realidade e as grandes superfícies promoviam os videojogos como nunca antes. Olhando para trás, pode parecer estranho, mas era comum ir à cidade verificar os lançamentos sem saber exatamente o que se iria encontrar nas prateleiras. Cada fim de semana trazia a promessa de uma pequena aventura.
Por estas razões, era perfeitamente possível comprar um jogo para a PS2 sem nunca o ter visto em movimento, talvez sem nunca ter visto uma captura de ecrã até pegar na caixa, e muitas vezes sem sequer ter ouvido falar do título. Esta sensação de mergulhar no desconhecido e explorar um vasto mundo de jogos envolvia riscos, mas também recompensas únicas. Jogos comprados por impulso, baseados quase inteiramente na "vibe" da capa, incluíam títulos como Gregory Horror Show (um estranho survival horror da Capcom), Ring of Red, Mr Moskeeto ou Sky Odyssey. Mesmo que estes títulos tivessem aparecido em revistas, a experiência de os jogar pela primeira vez em casa era, na maioria das vezes, um contacto inédito com aquele universo.
O fim do mistério na era da informação
Estes eram, de facto, grandes jogos, e a falta de informação prévia muitas vezes elevava o prazer da descoberta, criando a sensação de se ter encontrado algo que ninguém mais conhecia. Hoje, é fácil encontrar listas de "joias escondidas" da PS2 na internet, mas, naquela altura, a descoberta era feita manualmente pelos jogadores. O carinho por certos títulos deve-se, em parte, ao facto de terem sido experiências novas e imaculadas, sem spoilers ou opiniões pré-formadas.
Vivemos agora numa era de informação onde nos é dito tudo, sob a crença de que precisamos de saber todos os detalhes para tomar decisões. Será que alguém ficará genuinamente surpreendido ao jogar Grand Theft Auto 6 pela primeira vez? É provável que, antes do lançamento, já existam horas de vídeos a detalhar cada mecânica. Por isso, fica o agradecimento à PlayStation 2 e àquela era antes de estarmos sempre online. Foi um momento único na história dos videojogos.
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