
O mundo do desenvolvimento independente colidiu, mais uma vez, com a realidade corporativa da X (antigo Twitter). Desta vez, o protagonista é um programador a solo conhecido como SELO, que viu os seus projetos serem encerrados forçosamente pela empresa de Elon Musk, pouco tempo depois de os ter apresentado numa entrevista de emprego para a própria xAI. A controvérsia aumentou quando, dias após o encerramento, a plataforma anunciou uma funcionalidade suspeitosamente semelhante.
Do entusiasmo à ameaça legal
A história, que tem gerado acesas discussões na comunidade tecnológica, envolve dois projetos desenvolvidos por SELO: o X-Graphs e o XGlobalRank. Estas ferramentas ofereciam aos utilizadores formas mais detalhadas de pesquisar perfis e visualizar quem estava a ganhar tração real na plataforma. Curiosamente, as estatísticas mostravam o próprio Elon Musk em primeiro lugar na tabela global, seguido pelo Grok em segundo. As ferramentas utilizavam dados de feeds públicos e não recorriam a métodos de recolha ilícita (scraping abusivo).
O cenário parecia promissor para o programador no início de novembro. SELO participou em três entrevistas para a xAI, a empresa de Inteligência Artificial de Musk, onde demonstrou o funcionamento das suas criações. Segundo o relato do próprio, saiu das reuniões com a sensação de ter impressionado a equipa. No entanto, o que se seguiu não foi uma oferta de emprego, mas sim um silêncio absoluto.

Duas semanas depois, o contacto da empresa surgiu, mas não da forma esperada. Um funcionário da X enviou uma mensagem privada com um ultimato de três horas: encerrar os projetos ou enfrentar suspensões e consequências mais graves. A 17 de novembro, chegou a carta formal de cessação e desistência, acusando a sua empresa, a Curlysoft LLC, de utilizar ilegalmente "Dados da X". A situação foi detalhada pelo próprio SELO, que partilhou a documentação legal e as mensagens trocadas, sublinhando que nunca procurou um conflito.
"Sherlocking" e a ironia do lançamento oficial
O caso ganhou contornos de escândalo quando, a 27 de novembro — apenas dez dias após o encerramento forçado das ferramentas de SELO — Elon Musk anunciou um novo sistema de classificação para publicações no separador "A Seguir", alimentado pela tecnologia do Grok. A funcionalidade assemelhava-se drasticamente ao que o XGlobalRank oferecia.
Para agravar a perceção pública, surgiram capturas de ecrã de uma publicação, entretanto eliminada, de Nikita Bier, chefe de produto da X, a ridicularizar o programador após o encerramento dos sites. A comunidade reagiu prontamente, acusando a gigante tecnológica de copiar o trabalho de um programador independente após ter acesso privilegiado ao mesmo durante uma entrevista, uma prática muitas vezes referida na indústria como "sherlocking". A indignação tornou-se viral, impulsionada por uma exposição original que reuniu milhões de visualizações sobre o incidente.
Atualmente, quem visitar os domínios das antigas ferramentas encontrará apenas o aviso legal de encerramento. SELO procedeu ao reembolso dos subscritores e afirmou que pretende seguir em frente, embora tenha deixado uma nota provocatória numa publicação recente, sugerindo que está a realizar engenharia inversa ao "XChat". Resta saber se esta saga terá novos capítulos ou se servirá apenas como mais um aviso para os programadores que constroem produtos em cima de plataformas de terceiros.










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