
O viajante cósmico que tem captado a atenção da comunidade astronómica desde a sua descoberta em julho continua a surpreender. Novas observações do cometa interestelar 3I/ATLAS, realizadas a partir da Terra e da órbita de Marte, revelam que o objeto está a evoluir e a tornar-se mais ativo à medida que se aproxima do Sol.
As imagens mais recentes mostram o desenvolvimento de uma estrutura distinta, conhecida como cauda iónica, sinalizando a reação do cometa ao ambiente cada vez mais quente do nosso sistema solar interior.
A evolução vista de Itália
No passado dia 11 de novembro, o Virtual Telescope Project, sediado em Itália, conseguiu captar uma imagem detalhada do cometa. A composição, que resultou da soma de 18 exposições de 120 segundos cada, destaca o núcleo do 3I/ATLAS envolto na sua coma — a nuvem de gás e poeira que o rodeia.
Gianluca Masi, astrónomo e fundador do projeto, observou que a cauda iónica do cometa se está a tornar progressivamente mais evidente. Conforme explica o site Space.com, este fenómeno ocorre quando a intensa radiação ultravioleta do Sol arranca eletrões das moléculas de gás que o cometa liberta. O resultado é a criação de iões (partículas carregadas) que são depois "empurrados" pelo vento solar, criando uma cauda fina que aponta sempre na direção oposta à nossa estrela.
Esta característica distingue-se da cauda de poeira mais comum, sendo um indicador claro de que a atividade do cometa está a aumentar. O calor solar está a provocar uma libertação mais vigorosa de materiais voláteis, transformando a aparência deste visitante interestelar.
Os "olhos" em Marte
Mas as observações não se limitam ao nosso planeta. Antes de atingir o seu periélio (o ponto mais próximo do Sol), o 3I/ATLAS fez uma passagem pelas vizinhanças de Marte, o que proporcionou uma oportunidade única para as sondas que orbitam o Planeta Vermelho.
A Administração Espacial Nacional da China (CNSA) confirmou que a sua sonda Tianwen 1 conseguiu registar a passagem do objeto. Utilizando a sua câmara de alta resolução (HiRIC), a sonda captou imagens do cometa entre os dias 1 e 4 de outubro, contribuindo com dados valiosos a partir de uma perspetiva diferente da terrestre.

ESA refina a trajetória
A Agência Espacial Europeia (ESA) também aproveitou este encontro celeste. A missão ExoMars Trace Gas Orbiter (TGO) virou os seus instrumentos, habitualmente focados na superfície marciana, para o espaço profundo. Esta manobra representou um desafio técnico, uma vez que a câmara CaSSIS foi desenhada para cartografar o solo de Marte e não para rastrear objetos distantes num fundo estrelado.
No entanto, o esforço compensou. Ao combinar os dados orbitais da TGO com as observações feitas por telescópios na Terra, a equipa do Centro de Coordenação de Objetos Próximos da Terra da ESA conseguiu recalcular a trajetória do cometa. O resultado foi um aumento impressionante na precisão dos cálculos, reduzindo a margem de erro em 10 vezes.
Esta colaboração global, que une telescópios terrestres e missões espaciais de diferentes agências, está a permitir desenhar um retrato cada vez mais completo deste raro visitante de outro sistema estelar.










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