
A Airbus está a proceder a uma revisão profunda dos seus planos de contingência para centros de dados, após um apagão de dez horas que afetou Portugal e Espanha em abril ter deixado a empresa à beira de uma paragem total de produção. O incidente expôs vulnerabilidades críticas na infraestrutura de uma das maiores empresas aeroespaciais do mundo.
Um susto de dez horas
O apagão, descrito como um dos mais graves da história recente na Península Ibérica, foi desencadeado por picos de tensão que sobrecarregaram a rede elétrica. O corte de energia teve efeitos generalizados, desde a falha de semáforos até à evacuação de estações de metro, mas o impacto foi particularmente sentido no Campus Futura da Airbus em Madrid, onde se localiza o principal centro de dados da empresa em Espanha.
"Pensávamos que estávamos preparados para um problema elétrico e, na verdade, não estávamos", admitiu Catherine Jestin, Vice-Presidente Executiva da área Digital da Airbus, em declarações ao The Register. A executiva revelou que, apesar de existirem geradores de emergência, a empresa enfrentou um obstáculo logístico inesperado: a falta de combustível.
A falha na cadeia de abastecimento
Embora os geradores de reserva tenham entrado em funcionamento conforme previsto, a Airbus deparou-se rapidamente com uma escassez crítica de gasóleo para os manter a trabalhar. A tentativa de encomendar reabastecimentos de emergência falhou, uma vez que os fornecedores de combustível estavam sobrecarregados com chamadas de outros clientes afetados pelo mesmo apagão.
"Estivemos a poucas horas de um encerramento do centro de dados", confessou Jestin. As consequências de um "shutdown" seriam catastróficas: sem acesso aos sistemas digitais, os trabalhadores da linha de produção ficariam impossibilitados de consultar documentação técnica ou instruções de montagem. Além disso, as operações de armazém, dependentes de sistemas automatizados de recuperação de peças, teriam ficado paralisadas.
A empresa foi forçada a recorrer a soluções manuais e improvisadas para manter a atividade mínima. "Provavelmente teríamos sobrevivido um dia", acrescentou a responsável, sublinhando a gravidade da situação.
Novo plano de resiliência energética
O incidente serviu de alerta e desencadeou um "plano de melhoria" imediato. A Airbus está agora a assegurar reservas de combustível mais robustas e a negociar contratos de fornecimento prioritário para as suas instalações em Espanha, França, Alemanha e Reino Unido. O objetivo é garantir a autonomia das operações durante vários dias em caso de um "apagão massivo", sem depender de entregas externas de combustível num momento de crise.
Segundo o operador da rede nacional, o apagão de abril foi um evento raro, causado por "variações extremas de temperatura" no interior de Espanha. Estas condições provocaram oscilações anómalas nas linhas de muito alta tensão (400 kV) — um fenómeno conhecido como vibração atmosférica induzida — que resultaram em falhas de sincronização entre os sistemas elétricos e perturbações em cadeia na rede europeia interligada.










Nenhum comentário
Seja o primeiro!