Desde teclados Bluetooth a auscultadores, passando obviamente pelo nosso telemóvel Android, é provável que tenha em casa múltiplos dispositivos que carregam via USB-C. Isto significa, inevitavelmente, que também tem uma coleção de cabos que usa de forma intermutável para dar energia a tudo. Afinal, essa era a promessa do padrão universal USB-C: simplificar a nossa vida. Certo?
Bem... mais ou menos. Na prática, a resposta é bem mais complexa do que um simples "sim". O que deveria ser um padrão universal transformou-se num ecossistema confuso onde nem todas as portas USB-C fornecem a mesma velocidade e, pior ainda, nem todos os cabos foram criados da mesma forma.
Provavelmente já notou que o cabo que veio na caixa do seu smartphone carrega o dispositivo muito mais rápido do que aquele cabo genérico que veio com o teclado ou aquele barato que comprou online. Independentemente da potência do seu carregador, nem todos os cabos USB-C são fabricados para transportar a mesma quantidade de energia, e é frequentemente aí que reside o problema do carregamento lento.
Nem todos os cabos nascem iguais
O fio que liga o carregador ao seu equipamento importa mais do que imagina. Mesmo que o seu telemóvel suporte carregamento rápido (muitos modelos atuais suportam entre 45W a 100W, com alguns como o Realme GT Neo 5 a chegarem aos 240W) e tenha um adaptador capaz, o cabo pode tornar-se o elo mais fraco da cadeia.
A maioria dos cabos básicos suporta apenas até 3A, o que geralmente se traduz num máximo de 60W sob o protocolo USB-Power Delivery (USB-PD). Para ir além disso, um cabo precisa de suportar 5A e deve incluir um chip "e-marker" (marcador eletrónico) que identifica as suas capacidades para o dispositivo. Com a certificação correta, estes cabos de 5A podem suportar 100W (USB-PD 3.0) ou até 240W (USB-PD 3.1 Extended Power Range). O problema é que, visualmente, são quase idênticos aos cabos inferiores.
Além disso, existe a diferença entre cabos "apenas de carregamento" e cabos "completos". Alguns conseguem lidar com altas potências de carregamento, mas transferem dados a velocidades arcaicas de USB 2.0. Outros são rápidos nos dados, mas não foram desenhados para alta potência. O marketing das marcas também não ajuda, usando termos vagos como "carga rápida" ou "turbo" que variam de fabricante para fabricante.
Como identificar o problema na sua gaveta
A qualidade de construção também desempenha um papel crucial. Fios internos mais finos aumentam a resistência elétrica, o que desperdiça energia sob a forma de calor e reduz a eficiência do carregamento. Embora algum aquecimento seja normal no carregamento rápido, cabos que ficam notavelmente quentes são sinal de má qualidade ou de que não estão preparados para essa potência.
Se tem uma gaveta cheia de cabos e não sabe qual é qual, a forma mais fácil de descobrir a verdade é utilizar um pequeno USB Tester. Estas ferramentas baratas (geralmente entre 10 a 20 euros) ligam-se entre o carregador e o cabo, mostrando em tempo real a voltagem, a amperagem e a potência em watts.
Num teste prático, um cabo que parecia decente apenas conseguiu entregar 10W a um telemóvel capaz de carregar a 45W. Outro cabo, proveniente de uma power bank barata, ficou-se pelos 5W. Em contrapartida, o cabo original da Samsung atingiu consistentemente velocidades superiores, aproximando-se do limite nominal.
Mesmo sem um medidor, pode fazer um teste básico: tente carregar o seu dispositivo com cabos diferentes usando o mesmo adaptador e veja qual é mais rápido. A solução a longo prazo mais simples é usar o cabo original do dispositivo, pois os fabricantes geralmente incluem um que suporta a potência máxima do equipamento. Se precisar de comprar um novo, evite marcas brancas e procure etiquetas claras nas especificações, como "USB-PD 100W", "5A e-marked" ou "USB 3.2 Gen 2".
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