Num movimento que parece contrariar a tendência da última década de migração total para a nuvem, a Amazon Web Services (AWS) acaba de revelar as suas "AI Factories". Trata-se de uma nova aposta destinada a grandes empresas e governos, permitindo-lhes correr os sistemas de Inteligência Artificial da gigante tecnológica diretamente nos seus próprios data centers.
Conforme anunciado pela Amazon, o conceito é simples mas poderoso: o cliente fornece a energia e o espaço físico no data center, e a AWS instala o sistema de IA, gere-o e integra-o com os restantes serviços na nuvem. Esta estratégia visa resolver preocupações crescentes sobre a soberania dos dados, garantindo que informações sensíveis nunca saem das instalações do cliente para as mãos de concorrentes ou adversários estrangeiros.
O regresso ao hardware local com sabor a nuvem
Se o nome "AI Factory" soa familiar, não é por acaso. É a mesma designação que a Nvidia utiliza para os seus sistemas de hardware otimizados para IA. De facto, esta nova oferta da AWS é uma colaboração direta com a fabricante de chips.
As empresas que optarem por implementar estes sistemas terão à sua disposição uma escolha de "peso" no que toca ao processamento: podem equipar as suas fábricas de IA com as mais recentes GPUs Nvidia Blackwell ou com o novo chip proprietário da Amazon, o Trainium3.
Além do hardware bruto, o pacote inclui toda a infraestrutura de rede, armazenamento e segurança da AWS. O sistema permite ainda o acesso direto ao Amazon Bedrock — o serviço de gestão e seleção de modelos de IA — e ao AWS SageMaker AI, focado na construção e treino de modelos. Essencialmente, é como ter um pedaço da nuvem pública da Amazon instalado na cave da empresa, sem ter de partilhar o hardware com outros clientes.
Uma tendência que a Microsoft também segue
A ironia deste movimento não passa despercebida: a explosão da Inteligência Artificial está a levar os maiores fornecedores de cloud a investir fortemente em data centers privados e soluções híbridas, num cenário que faz lembrar o panorama tecnológico de 2009.
A Amazon não está sozinha nesta corrida. A Microsoft também tem vindo a reforçar a sua aposta em infraestruturas locais. Recentemente, a empresa de Redmond destacou as suas próprias "AI Factories" para correr cargas de trabalho da OpenAI e delineou planos para data centers e serviços de cloud construídos localmente em diversos países, precisamente para responder à questão da soberania dos dados. A oferta "Azure Local" da Microsoft também aponta para esta direção, com hardware gerido que pode ser instalado nas instalações do cliente.
Com esta nova oferta, a AWS procura garantir que, mesmo que os dados não possam ir até à nuvem, a nuvem — e a sua capacidade de processamento de IA — possa ir até aos dados.
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