
A tecnologia de condução autónoma da Tesla volta a estar no centro de uma polémica de segurança rodoviária. A National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA), entidade reguladora dos transportes nos Estados Unidos, identificou pelo menos 80 situações em que o software Full Self-Driving (Supervised) violou regras de trânsito fundamentais. Entre as falhas reportadas estão a passagem de sinais vermelhos e a invasão de faixas de rodagem contrárias ou erradas, conforme detalhado numa nova carta enviada esta semana à fabricante automóvel.
Este desenvolvimento marca um agravamento na investigação que a agência tem em curso. O Gabinete de Investigação de Defeitos (ODI) da NHTSA indica que o número de incidentes subiu para 80, um aumento significativo face aos cerca de 50 casos citados quando o inquérito inicial foi aberto em outubro. A agência baseia-se num conjunto de dados que inclui 62 queixas de condutores, 14 relatórios submetidos pela própria Tesla e quatro investigações baseadas em relatos da imprensa.
A capacidade de deteção do software em causa
O foco central desta investigação da ODI reside em determinar se o software de assistência à condução da Tesla consegue, de facto, "detetar com precisão e responder adequadamente a sinais de trânsito, semáforos e marcações na estrada". Além da capacidade técnica de resposta do veículo, a autoridade está a avaliar se o sistema fornece avisos suficientes aos condutores quando estas situações de risco ocorrem.
A pressão sobre a empresa aumentou, com a NHTSA a exigir respostas concretas e dados detalhados. A carta enviada solicita informações sobre quantos veículos da marca estão equipados com o FSD, bem como a frequência com que o software é ativado pelos utilizadores. A agência quer ainda ter acesso a todas as reclamações de clientes relacionadas com estes problemas específicos, incluindo dados de operadores de frotas e processos de arbitragem ou judiciais. A Tesla tem até ao dia 19 de janeiro de 2026 para entregar estas respostas à entidade reguladora.
Um ponto curioso levantado na comunicação refere-se a um cruzamento específico em Joppa, Maryland, que foi palco de múltiplos incidentes reportados em outubro. Na altura, a Tesla afirmou ter tomado medidas para resolver o problema naquele local, mas a agência não especificou onde ocorreram os novos incidentes agora adicionados ao processo.
Contexto controverso e investigações paralelas
O envio desta carta ocorre numa altura particularmente sensível para a imagem pública do sistema de condução autónoma da marca. Coincidentemente, na mesma semana, o CEO Elon Musk utilizou a rede social X para afirmar que a versão mais recente do FSD permitiria aos condutores enviar mensagens de texto enquanto o sistema conduz o veículo. Esta declaração gerou controvérsia imediata, dado que o uso do telemóvel para enviar mensagens durante a condução é ilegal na grande maioria dos estados norte-americanos, e a NHTSA ainda não emitiu comentários sobre estas alegações.
É importante notar que esta não é a única frente de batalha regulatória que a Tesla enfrenta atualmente. Este é o segundo inquérito ativo da NHTSA sobre o software FSD. Em outubro de 2024, a agência já tinha iniciado uma investigação separada sobre a forma como o sistema lida com situações de visibilidade reduzida, como nevoeiro intenso ou luz solar extrema, levantando questões sobre a fiabilidade das câmaras e sensores em condições adversas.
Com o prazo de resposta a terminar no início do próximo ano, resta saber se a Tesla conseguirá demonstrar que as falhas apontadas são casos isolados ou se será necessária uma revisão profunda (e potencialmente um recall) do seu sistema de condução assistida.










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