
A conveniência da Amazon é um argumento quase imbatível para a maioria dos consumidores, mas essa lógica está a sair cara aos cofres públicos. Um novo relatório do Institute for Local Self-Reliance (ILSR) revela que a utilização de fundos estatais para compras na plataforma tem levado escolas e distritos nos EUA a pagarem valores muito acima do mercado. O culpado? O sistema de "preços dinâmicos" gerido por algoritmos.
Historicamente, as escolas públicas e os governos locais compravam materiais através de concursos públicos, onde os fornecedores apresentavam listas de preços fixos e prazos de entrega claros. Este método garantia transparência e incentivava a poupança através da competição direta. No entanto, ao transitar para a Amazon, estas entidades ficaram reféns de flutuações em tempo real que tornam as compras públicas num terreno opaco e dispendioso.
O fim dos concursos públicos e dos preços fixos
Segundo o documento, os contratos da Amazon com entidades públicas não preveem preços fixos. Pelo contrário, a estrutura é baseada num mercado digital onde os valores flutuam conforme a vontade do algoritmo. Em estados como o Utah, os contratos admitem explicitamente que os preços podem oscilar sem necessidade de revisão contratual, o que abre a porta a discrepâncias absurdas.
O estudo analisou as compras de 128 governos locais e 122 agências estatais, concluindo que o custo da conveniência é, muitas vezes, o desperdício de dinheiro dos contribuintes. Num dos casos analisados, uma escola chegou a pagar cerca de 58,80 € por um agrafador que, poucos dias antes, tinha sido vendido pela própria Amazon por apenas 14,60 €.
Diferenças de preços brutais em produtos idênticos
Os exemplos listados pelo ILSR são esclarecedores sobre como a falta de tabelas fixas prejudica o setor público. Num único dia de 2023, um funcionário em Boulder comprou um pack de marcadores por aproximadamente 8,50 €, enquanto outro trabalhador de uma escola em Denver pagou cerca de 27,20 € pelo mesmo produto.
As vendas em larga escala também sofrem com esta volatilidade. No condado de Clark, a compra de 610 monitores custou cerca de 138.700 €, mas o relatório indica que, se a encomenda tivesse sido feita noutro dia, o valor poderia ter sido inferior em cerca de 22.800 €.
O estudo focado em 2.500 produtos de alta frequência — como papel, canetas e material de limpeza — revelou que um distrito escolar poderia ter poupado 17% (cerca de 1 milhão de euros) se tivesse recebido consistentemente os preços mais baixos da plataforma. Além do custo financeiro, esta prática está a asfixiar os pequenos fornecedores locais, que não conseguem competir com a visibilidade dos algoritmos da gigante tecnológica, enfraquecendo as economias regionais e criando uma dependência perigosa de um único monopólio.
Em resposta, a Amazon contestou as conclusões do estudo, afirmando que a metodologia é pouco fiável e que as comparações de produtos foram feitas de forma seletiva ("cherry-picking"), ignorando fatores como a disponibilidade de stock nos concorrentes.










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