
Afirmar que uma fabricante específica produz os "piores" carros é, por norma, uma declaração audaz e subjetiva. Alguns condutores podem estar dispostos a sacrificar a fiabilidade a longo prazo pelo prestígio ou desempenho de uma marca de luxo, enquanto outros preferem a tranquilidade de um veículo que nunca avaria, mesmo que seja menos emocionante de conduzir.
No entanto, quando se trata de aplicar critérios objetivos e padronizados, a Consumer Reports (CR) continua a ser uma referência incontornável na indústria. Utilizando uma combinação de métricas de testes de estrada, inquéritos de fiabilidade, satisfação dos proprietários e classificações de segurança, a organização compila regularmente uma lista das melhores e piores marcas do mercado. Na versão mais recente deste ranking, que avaliou 31 fabricantes, a Jeep ficou classificada na última posição, segundo os dados da Consumer Reports.
Este resultado pode ser desconcertante para muitos, dado que a Jeep é uma das marcas mais históricas e icónicas dos Estados Unidos, com uma base de fãs leal. Contudo, não é propriamente uma surpresa para quem tem acompanhado as notícias recentes sobre as sucessivas recolhas (recalls) e problemas de segurança que têm afetado a fabricante.
Satisfação dos proprietários em mínimos históricos
A classificação da Consumer Reports não se baseia em opiniões infundadas. A metodologia envolve a análise de vários fatores críticos. Embora alguns pontos negativos apontados à Jeep, como o elevado consumo de combustível, sejam frequentemente aceites pelos compradores como uma contrapartida pelas capacidades todo-o-terreno dos veículos, outros indicadores são mais alarmantes.
O dado mais difícil de defender é a posição da Jeep no fundo da tabela no que toca à satisfação dos proprietários. De acordo com o relatório, apenas cerca de metade dos atuais proprietários de um Jeep afirmaram que voltariam a comprar um veículo da marca. Isto sugere que, embora o veículo possa parecer apelativo no stand, a experiência de convivência a longo prazo deixa muito a desejar.
Problemas técnicos e o pesadelo dos híbridos 4xe
Para além das tabelas da CR, a qualidade questionável dos produtos recentes da Jeep tem sido notícia frequente. A marca tem enfrentado uma série de recolhas de grande visibilidade, afetando particularmente os seus modelos híbridos plug-in 4xe.
Apenas no último ano, os modelos Jeep 4xe foram alvo de recolhas massivas devido a riscos graves, incluindo falhas completas do motor e, pior ainda, risco de incêndio devido a células de bateria defeituosas. Estes não são apenas inconvenientes mecânicos; representam riscos de segurança reais tanto para o veículo como para as habitações onde estes são estacionados. Adicionalmente, inquéritos informais junto de mecânicos colocam frequentemente a Jeep — juntamente com outras marcas do grupo Stellantis, como a Dodge e a Chrysler — na lista de veículos que mais frequentemente "pagam a renda" das oficinas devido à necessidade constante de reparações.
O risco financeiro de comprar usado
A conclusão deste relatório não implica necessariamente que se deva evitar completamente a compra ou o leasing de um Jeep novo, especialmente se estiver coberto pela garantia de fábrica. No entanto, o historial de fiabilidade duvidosa e a probabilidade de o veículo passar longos períodos na oficina são fatores que qualquer consumidor deve ponderar.
Onde os avisos da Consumer Reports se tornam uma verdadeira "bandeira vermelha" é no mercado de usados. Ter um veículo problemático coberto pela garantia é um incómodo; ter um veículo propenso a avarias fora da garantia representa um risco financeiro significativo.
Apesar destes dados, a reputação menos favorável da Jeep no capítulo da fiabilidade não é novidade e não tem impedido os entusiastas da marca de desfrutarem dos seus veículos. Contudo, para quem procura paz de espírito e fiabilidade comprovada, não será surpresa verificar que o topo da tabela da Consumer Reports continua a ser dominado pelas marcas japonesas de sempre.