
Sir Tim Berners-Lee, o físico britânico creditado como o inventor da World Wide Web, expressou sérias preocupações sobre o impacto da Inteligência Artificial (IA) no ecossistema que ajudou a criar. Numa nova entrevista ao podcast Decoder, da The Verge, Berners-Lee alertou que o modelo de negócio que sustenta a vasta maioria dos conteúdos online — a publicidade — pode estar em risco de colapso.
O colapso do modelo publicitário
A principal inquietação do "pai da Web" foca-se na forma como as ferramentas de IA generativa estão a mudar o comportamento dos utilizadores. À medida que as pessoas obtêm respostas diretas dos chatbots, deixam de precisar de visitar os sites originais.
"Eu preocupo-me com a infraestrutura da web... produzida por pessoas que ganham dinheiro com publicidade", afirmou Berners-Lee. "Se ninguém estiver realmente a seguir os links, se as pessoas não estiverem a usar motores de pesquisa, se não estiverem realmente a usar os seus websites, então perdemos esse fluxo de receita de publicidade. Todo esse modelo colapsa."
Esta visão alinha-se com a de muitos analistas da indústria, que preveem um futuro onde a visibilidade nas plataformas de IA se tornará mais importante do que o tráfego tradicional vindo de motores de pesquisa como a Google.
O problema crónico dos monopólios
Durante a conversa, Berners-Lee abordou também a tendência da web para a centralização e criação de monopólios, algo que considera prejudicial.
"Quando se tem um mercado e uma rede, acabamos com monopólios. É assim que os mercados funcionam", explicou. Ele usou exemplos concretos: "Houve um tempo antes de o Google Chrome ser totalmente dominante, quando havia um mercado razoável para diferentes navegadores. Agora o Chrome é dominante."
O mesmo se aplica, segundo ele, aos motores de pesquisa ("agora temos basicamente um") e às redes sociais ("temos basicamente uma rede social").
A nova vida da Web Semântica
Berners-Lee, que trabalhou durante décadas no conceito da "Web Semântica" (uma web estruturada para que as máquinas a pudessem ler tão facilmente como os humanos), admite que a IA é a peça que faltava.
Ele considera que o projeto teve sucesso parcial, nomeadamente através de bases de dados públicas (como o OpenStreetMap) e do Schema.org — o projeto da Google que permite aos sites adicionar metadados para que os motores de pesquisa compreendam melhor o seu conteúdo.
"Nunca construímos as coisas que extrairiam dados semânticos de dados não-semânticos. Agora a IA vai fazer isso", refletiu. Ele perspetiva "outra onda da Web Semântica com IA", onde estas comunicarão entre si, criando "uma web de dados que é gerada por IAs, usada por IAs e usada por pessoas".
Pagar pelo conteúdo? A solução dos micropagamentos
Quando questionado sobre a possibilidade de os sites bloquearem crawlers de IA ou exigirem pagamento, Berners-Lee notou que esta ideia não é nova.
"Tivemos projetos de micropagamentos no W3C [World Wide Web Consortium]... ao longo das décadas", recordou, mencionando que até o protocolo HTTP inclui um código de erro para "pagamento necessário". "A ideia de que as pessoas pagariam por informação na web; isso sempre esteve lá. Mas, claro, quer seja um crawler de IA ou uma pessoa individual, a forma como se quer pagar pelas coisas vai ser muito diferente."










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