
A promessa da condução totalmente autónoma tem sido um dos pilares da Tesla há vários anos, mas as recentes declarações do CEO da empresa levantaram uma nova onda de controvérsia sobre a segurança rodoviária. Elon Musk indicou que a próxima versão do software Full Self-Driving (FSD) poderá permitir que os condutores utilizem os seus telemóveis para enviar mensagens enquanto o carro se desloca, dependendo das condições do trânsito.
A confirmação surgiu numa interação na rede social X, onde Elon Musk respondeu a questões sobre as capacidades da futura versão 14.2.1 do FSD. Quando questionado se o sistema permitiria o uso do telemóvel ao volante, o empresário respondeu afirmativamente: "Dependendo do contexto do trânsito circundante, sim".
O "Killer App" da condução autónoma
Esta não é a primeira vez que a liderança da Tesla aponta para um futuro onde a atenção do condutor deixa de ser obrigatória. Durante a reunião anual de acionistas da empresa, Musk já tinha abordado o tema, descrevendo a capacidade de enviar mensagens e conduzir simultaneamente como uma espécie de "killer app" (aplicação decisiva), argumentando que é "aquilo que as pessoas realmente querem fazer".

Atualmente, os veículos da Tesla estão equipados com câmaras no habitáculo que monitorizam o movimento ocular dos condutores. Se o sistema detetar que a atenção do condutor se desviou da estrada — por exemplo, para olhar para um telemóvel —, emite alertas sonoros e visuais. O acumular destes avisos pode levar à desativação do sistema FSD, numa tentativa de garantir que o condutor mantém a supervisão do veículo. As declarações recentes sugerem, no entanto, que a Tesla poderá relaxar estas exigências em cenários específicos, como no trânsito lento (pára-arranca).
A ilusão da autonomia e os riscos legais
Apesar do otimismo tecnológico de Musk, a realidade legal e de segurança apresenta barreiras significativas. O envio de mensagens durante a condução é ilegal na grande maioria das jurisdições, incluindo em quase todos os estados norte-americanos e na Europa, devido ao elevado risco de acidentes por distração.
É importante notar que, apesar da designação "Full Self-Driving", o sistema da Tesla continua a ser classificado como Nível 2 na escala de autonomia. Isto significa que se trata de um sistema de assistência à condução "supervisionado", onde a responsabilidade legal por qualquer incidente recai inteiramente sobre o condutor, e não sobre o fabricante. Ao contrário de empresas como a Waymo, que assumem a responsabilidade pelos seus táxis robôs totalmente autónomos, a Tesla mantém que os seus condutores devem estar sempre prontos a assumir o controlo.
Esta disparidade entre a capacidade técnica prometida — ou a permissão implícita do CEO — e a responsabilidade legal pode colocar os condutores numa posição delicada. Caso ocorra um acidente enquanto o condutor envia mensagens, confiando na palavra de Musk ou no software, a lei continuará a responsabilizar quem está sentado ao volante. Especialistas em segurança rodoviária alertam que, até que a tecnologia atinja um nível de autonomia que dispense legalmente a supervisão humana, tirar os olhos da estrada continua a ser um risco que nenhuma atualização de software consegue eliminar totalmente.










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