
A Apple anunciou um reforço massivo do seu investimento nos Estados Unidos, elevando o compromisso total para 600 mil milhões de dólares ao longo de quatro anos, o que inclui uma nova e significativa promessa de 100 mil milhões de dólares. Este esforço surge num momento em que o Presidente Trump intensifica a pressão para que mais capacidade de produção industrial regresse ao país, e a gigante tecnológica parece estar a responder ao apelo.
Como parte central desta estratégia, a empresa lançou o novo Programa de Fabrico Americano (AMP), concebido para trazer uma maior fatia da sua cadeia de fornecimento e produção avançada para solo norte-americano. O investimento resultará na contratação direta de 20.000 novos funcionários em áreas cruciais como investigação e desenvolvimento (I&D), engenharia de silício e inteligência artificial, conforme detalhado no anúncio oficial da Apple.
Uma nova cadeia de fornecimento de silício em casa
Um dos objetivos mais ambiciosos deste programa é a criação de uma cadeia de fornecimento de semicondutores totalmente integrada nos EUA. Para o conseguir, a Apple estabeleceu parcerias estratégicas em todas as fases da produção de chips. A GlobalWafers America será responsável pelos wafers, enquanto a fabricação ficará a cargo de gigantes como a TSMC, TI, Samsung e Global Foundries. A fase final de encapsulamento será assegurada pela Amkor.
Esta rede de parceiros deverá produzir mais de 19 mil milhões de chips para os produtos da Apple apenas este ano. As parcerias focam-se em tecnologia de ponta, como os processos avançados da TSMC no Arizona, onde a Apple é o primeiro e maior cliente. A empresa irá também tirar partido da nova tecnologia de fabrico de chips da Samsung em Austin, no Texas. O estado do Texas terá ainda a responsabilidade de produzir os servidores para a Apple Intelligence, que anteriormente eram fabricados fora dos EUA.
Expansão industrial e o xadrez político
A expansão das instalações de fabrico irá beneficiar vários estados, incluindo Texas, Arizona, Kentucky e Nova Iorque. Um exemplo concreto é o investimento de 2,5 mil milhões de dólares para produzir todo o vidro de cobertura para o iPhone e Apple Watch na fábrica da Corning em Harrodsburg, Kentucky, como destacado pela própria empresa.
O anúncio da Apple inclui ainda a criação da Apple Manufacturing Academy em Detroit, que visa ajudar pequenas empresas a implementar processos de fabrico avançado e inteligência artificial. Embora não afete diretamente a Apple, a iniciativa pretende fortalecer o ecossistema industrial envolvente.
Curiosamente, este movimento parece beneficiar mais a classe média, com empregos em I&D e engenharia, do que as famílias da classe trabalhadora que poderiam ser atraídas por empregos de fabrico mais tradicionais, um ponto central da plataforma política do Presidente Trump para o regresso da indústria aos EUA. Este novo investimento surge na sequência de outros anúncios, como o de 100 mil milhões de dólares, num cenário de crescente guerra dos chips.
Apesar da magnitude dos números, a Apple não divulgou os custos financeiros detalhados destes programas para a empresa ou para os seus parceiros, o que torna difícil avaliar o verdadeiro impacto económico e quem, no final, suportará a maior parte dos encargos.