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Navegar pelas redes sociais hoje em dia é, muitas vezes, um exercício de paciência. O que começou como uma promessa de conectar o mundo e fomentar a troca de ideias transformou-se, em grande parte, num campo de batalha onde a moeda de troca é a agressividade. Cada vez mais, as secções de comentários de plataformas populares estão repletas de intervenções que não acrescentam valor, informação ou contexto, servindo apenas para propagar hostilidade ou ruído digital.

Este fenómeno não é novo, mas a sua intensidade e prevalência parecem ter atingido novos patamares, impulsionados tanto pelo comportamento humano como pelos algoritmos que regem o que vemos nos nossos ecrãs.

O incentivo à toxicidade no X e no Reddit

Embora o problema seja transversal, certas plataformas parecem ter ecossistemas que favorecem este tipo de interação. No X (antigo Twitter), a brevidade das publicações e o sistema de recompensas por interação criaram uma cultura onde a resposta rápida e mordaz — o chamado "dunk" — é mais valorizada do que uma argumentação ponderada. Recentemente, a plataforma tem estado no centro de polémicas, com petições que acusam a gestão de promover o discurso de ódio, o que ilustra como a moderação (ou a falta dela) influencia o tom da conversa.

Por outro lado, o Reddit, apesar da sua estrutura baseada em comunidades e interesses, não está imune. O sistema de anonimato, embora proteja a privacidade, muitas vezes encoraja os utilizadores a deixarem comentários que jamais fariam cara a cara. A estrutura de "upvotes" e "downvotes", desenhada para destacar conteúdo relevante, por vezes cria câmaras de eco onde opiniões divergentes são agressivamente silenciadas, não com contra-argumentos, mas com insultos ou desprezo. A plataforma tem tentado implementar novas medidas de verificação para mitigar alguns destes problemas, mas a cultura de agressividade em certos "subreddits" permanece um desafio constante.

A cultura do comentário vazio

O aspeto mais frustrante desta tendência não é apenas a raiva, mas a inutilidade do conteúdo gerado. É cada vez mais comum encontrar publicações informativas onde os comentários de topo não discutem a notícia, mas focam-se em atacar a aparência de quem publicou, corrigir um erro gramatical irrelevante de forma rude, ou simplesmente deixar frases feitas destinadas a gerar discórdia.

Muitos utilizadores parecem sentir uma obrigação performativa de comentar, mesmo quando não têm nada a dizer. Em vez de partilharem uma experiência ou um dado factual que enriqueça o debate, optam por comentários desnecessários que apenas ocupam espaço e diluem a qualidade da informação. Esta "poluição" dos comentários torna difícil para quem realmente quer aprender ou debater encontrar conteúdo de valor no meio do ruído.

Um problema transversal a todas as plataformas

Apesar de o foco recair frequentemente sobre os gigantes do texto, as plataformas visuais não estão isentas. A Meta, detentora do Facebook e Instagram, enfrenta desafios semelhantes, onde a polarização política e social se infiltra até em publicações sobre temas triviais. A empresa tem tentado moderar conteúdos e treinar as suas ferramentas de IA com dados dos utilizadores para detetar padrões, mas a criatividade humana para a ofensa supera muitas vezes os filtros automáticos.

Também no TikTok, a rapidez com que os vídeos são consumidos leva a reações impulsivas. A secção de comentários transforma-se frequentemente numa sequência de reações exageradas ou críticas destrutivas, onde a nuance é inexistente.

O resultado final é um ambiente digital onde a partilha de conhecimento é desincentivada. Especialistas e criadores de conteúdo pensam duas vezes antes de publicar, receando não a crítica construtiva, mas a onda de negatividade vazia que se segue. Para inverter esta tendência, seria necessária uma mudança cultural profunda na forma como encaramos a nossa presença online: comentar menos se não houver nada a acrescentar e valorizar o silêncio quando não se tem nada construtivo para dizer.