A Meta, empresa-mãe do Facebook e Instagram, está a unir forças com a Anduril Industries, a controversa empresa de defesa de Palmer Luckey, para desenvolver dispositivos "wearable" de ponta para o Exército dos Estados Unidos. A notícia, avançada pelo Wall Street Journal, revela que as duas gigantes tecnológicas estão a concorrer a um contrato que poderá atingir os 100 milhões de dólares (aproximadamente 92 milhões de euros), inserido num projeto mais vasto de modernização de equipamento militar avaliado em 22 mil milhões de dólares, onde a Anduril já figura como principal fornecedora.
Este projeto colaborativo, denominado "EagleEye", visa criar uma linha de capacetes, óculos e outros dispositivos "wearable" que integram experiências de realidade aumentada (AR) e realidade virtual (VR). Segundo os relatos, estes equipamentos serão dotados de sensores capazes de ampliar drasticamente a audição e visão dos soldados no terreno.
O que é o projeto "EagleEye"?
A ambição do "EagleEye" é fornecer aos militares norte-americanos capacidades sensoriais sobre-humanas. Imagine-se a possibilidade de detetar drones a quilómetros de distância ou identificar alvos camuflados com uma precisão sem precedentes. Para além da melhoria sensorial, estes dispositivos permitirão aos soldados interagir com sistemas de armamento alimentados por inteligência artificial (IA). A base tecnológica assentará no software de autonomia da Anduril e nos modelos de IA desenvolvidos pela Meta.
Mark Zuckerberg, CEO da Meta, afirmou em comunicado que esta tecnologia ajudará a "proteger os nossos interesses no país e no estrangeiro". Embora a descrição possa evocar cenários distópicos saídos da ficção científica, reflete a crescente integração de tecnologias avançadas no setor da defesa.
Visão estratégica e implicações tecnológicas
Palmer Luckey, uma figura conhecida no mundo da tecnologia, comentou sobre a crescente aceitação de contratos de defesa por parte das grandes empresas tecnológicas ("Big Tech"). "Consegui persuadir não só a Meta, mas muitas outras, de que trabalhar com as forças armadas é importante", afirmou Luckey numa entrevista. Nos últimos anos, Luckey tornou-se um ator influente no setor da defesa, acumulando contratos governamentais globais no valor de 6 mil milhões de dólares e estabelecendo parcerias com diversos gigantes tecnológicos.
Numa entrevista recente à CBS News, Luckey expressou uma visão pragmática sobre o papel dos EUA: "Sempre disse que precisamos de transitar de ser a polícia do mundo para ser a loja de armas do mundo".
Palmer Luckey: da Oculus à vanguarda da defesa
Esta colaboração marca uma espécie de regresso a casa para Palmer Luckey. Ele foi o cofundador da Oculus VR, a empresa de realidade virtual que a Meta (anteriormente Facebook) adquiriu. No entanto, Luckey foi demitido da Meta em 2017, após vir a público que doou 10.000 dólares a um grupo que promovia mensagens controversas anti-Hillary Clinton.
A reaproximação entre Luckey e a Meta, liderada por Zuckerberg – que também tem demonstrado aproximações a figuras como Donald Trump –, é notável. "Finalmente recuperei todos os meus brinquedos", disse Luckey ao Wall Street Journal. Luckey, um apoiante de longa data de Trump, mencionou recentemente que a Anduril "teve um bom desempenho sob a primeira administração Trump" e antecipa que a empresa "terá um desempenho ainda melhor agora". Este novo capítulo sublinha a complexa e, por vezes, controversa intersecção entre a inovação tecnológica, os interesses comerciais e a geopolítica.
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